Eu posso garantir que você também notou o aumento recente nos casos de estresse, ansiedade e burnout. A pandemia criou um cenário de caos e incerteza gigantes e, naturalmente, os números já agravantes subiram ainda mais. Porém, mesmo antes desse período de pandemia, era possível ouvir pessoas próximas, colegas de outra área ou conhecidos distantes relatarem sintomas relacionados ao esgotamento crônico.
Esse cenário fica comprovado ao recorrermos a estudos e matérias que mostram o aumento do número de mortes e também ao custo econômico causado por transtornos como a síndrome de burnout. E apesar da gravidade; o entendimento, a prevenção e o tratamento continuam confusos e distantes do dia a dia da grande maioria das pessoas e das empresas.
Pior ainda, a desinformação tem criado a falsa sensação de que o problema e a sua solução estão apenas nas mãos de quem adoece.
É muito comum, ao conhecermos alguém com ansiedade, depressão ou esgotamento crônico e ouvirmos sua história de vida, acharmos que tal condição poderia ter sido evitada caso a pessoa tivesse mantido uma gestão melhor do trabalho, uma rotina mais saudável, dito mais “nãos” ou exercitado mais yoga e mindfulness…
Uma crença que tem mobilizado ações e práticas muito positivas, mas que não tratam por completo um fenômeno organizacional estrutural e sistêmico. E com pandemia vimos crescer ainda mais a nuvem sobre as raízes do burnout e sobre as responsabilidades dos diversos atores envolvidos.
Mas o que é burnout e por que é importante ter isso claro?
A definição e designação adequada do termo “Burnout” são discutidas desde o surgimento da terminologia, nos anos 70. A Organização Mundial da Saúde, OMS, define o esgotamento como “uma síndrome conceitual resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso”. É caracterizada pelo sentimento de exaustão, por sentimentos de negativismo e pela eficácia profissional reduzida.
Em maio de 2019, após incluir o esgotamento na Classificação Internacional de Doenças (CID), a OMS deu sinais de que ele seria tratado como condição médica. Porém, logo em seguida, acrescentou uma nota declarando que: “o Esgotamento está incluído na 11ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um fenômeno ocupacional, não como uma condição médica”. Você pode conferir essa declaração aqui.
Até aqui, você já deve ter percebido a importância de definir precisamente os aspectos que influenciam as causas do Burnout, bem como as responsabilidades inerentes aos diversos agentes envolvidos. Mas, caso não tenha ficado claro, vale o reforço: a clareza deste tipo de definição permite o endereçamento adequado de tratamentos, a busca por apoio nos seguros e planos de saúde, a definição de obrigações em processos judiciais e, claro, alerta a sociedade de maneira mais clara sobre os impactos e também sobre direitos e deveres. O que, de certa forma, continua confuso, mesmo com as definições da OMS.
O tamanho do impacto do burnout e dos transtornos mentais
Um estudo realizado pela Universidade de Stanford, com o objetivo de entender o impacto do estresse nos custos de saúde e mortalidade dos Estados Unidos, revelou dados alarmantes. Descobriram que, somente nos EUA, os custos com saúde oriundos do estresse somam mais de 190 bilhões de dólares e quase 120 mil mortes por ano. Em todo o mundo, mais de 600 milhões de pessoas sofrem de depressão e ansiedade e, segundo estudo recente da OMS, isso custa mais de 1 trilhão de dólares em perda de produtividade todos os anos.
É claro que você deve estar pensando sobre o impacto que a pandemia e a sobrecarga dos sistemas de saúde globais causaram em setores como estes. Pois é, entre enfermeiros e médicos, as taxas de suicídio já eram mais altas do que as de outros profissionais antes da pandemia: 40% mais altas para homens e 130% mais altas para mulheres. Mais recentemente, em setembro de 2020, uma pesquisa apontou que 83% dos profissionais de saúde apresentavam sintomas de esgotamento aqui no Brasil.
Há ainda que se considerar o fato de que existem milhões de empresas sem nenhum programa ou diretriz de cuidado e apoio à saúde e bem-estar dos funcionários. O que também implica em perdas em decorrência da alta rotatividade, da improdutividade e, claro, da sinistralidade.
No Brasil, os dados revelam uma situação desafiadora. Em junho de 2019, a OMS declarou que somos o país mais ansioso do mundo, com quase 10% da população afetada, algo em torno de 20 milhões de pessoas. Aqui, os transtornos mentais e emocionais são a segunda principal causa de afastamento do trabalho. Nos últimos dez anos, a concessão de auxílio-doença acidentário devido a tais males aumentou em quase 20 vezes, segundo o Ministério da Previdência Social. Com frequência, os doentes ficam mais de 100 dias longe de suas funções.
Fica claro até aqui de que se trata de um problema sistêmico, arraigado nas estruturas de nossa sociedade e formas de trabalho. Além disso, os dados desconfortáveis podem fazer parecer que enfrentar o esgotamento é uma tarefa impossível ou mesmo distante de nós, líderes.
Porém, é possível sim combater o burnout de forma ampla nas empresas. A pergunta para isso é: entendendo o trabalho como um dos principais geradores de gatilhos do burnout, como podemos identificar e prevenir as causas do esgotamento crônico dentro das nossas empresas?
Porque é sobre a empresa e não sobre as pessoas?
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Gallup, em julho de 2018, revelou que os cinco principais motivos de esgotamento crônico são:
- Tratamento injusto no trabalho;
- Carga de trabalho não gerenciável;
- Falta de clareza de função;
- Falta de comunicação e apoio do gerente;
- Pressão de tempo irracional.
Essa lista demonstra que o esgotamento tem raízes ligadas à gestão, à cultura e às estruturas e processos organizacionais. E também abre espaço para pensar que – apesar dos inúmeros benefícios – iniciativas paliativas e focadas exclusivamente no indivíduo não são suficientes para prevenir e tratar o burnout de forma ampla e definitiva. É como se estivéssemos atacando o problema pela perspectiva equivocada.
Ao caracterizarmos o burnout como doença, o tornamos um problema do indivíduo, nos concentramos apenas nele, em seus sintomas e no que pode ser feito para evitar que as pessoas, isoladamente, adoeçam. Quando, na verdade, o que deveríamos fazer é focar no que há de errado com a empresa e o trabalho do ponto de vista estrutural. A perspectiva inadequada torna o burnout um problema da pessoa e exclui a responsabilidade da organização que a emprega.
A lista acima também demonstra que as estratégias de prevenção ao esgotamento estão ligadas a boas práticas de gestão e governança, e que o olhar sistêmico e antecipado para sua resolução pode não apenas salvar vidas, mas também aumentar a produtividade, a eficiência e os resultados. Pode ainda diminuir os custos inerentes aos afastamentos e à sinistralidade dos planos de saúde e seguros de vida. Um bom negócio para qualquer empresa, não é mesmo?
E quero reforçar: programas de saúde, treinamentos sobre resiliência e inteligência emocional, exercícios físicos, yoga, meditação e diversas outras iniciativas, individuais ou coletivas, são fundamentais para o cultivo de uma boa saúde mental. Entretanto, é preciso cautela em determiná-los como única estratégia de combate e tratamento do esgotamento, pois ao olhar de forma ampla para este problema, entendemos que é necessário agir de maneira sistêmica, envolvendo também a estratégia e a gestão do negócio.
O que eu já posso fazer contra o burnout?
Acredito fortemente na possibilidade de uma liderança humana e justa em todos os âmbitos empresariais. Ao chegar até aqui, você deve estar se perguntando sobre como evitar o esgotamento crônico na sua equipe ou empresa. O fato é que, na maior parte das vezes, essa resposta é particular e deve considerar o contexto e cultura individuais do negócio.
Quero propor, porém, um caminho possível de provocações e ações efetivas na prevenção do Burnout. Elaborei uma lista com 4 mudanças que pode fazer e que, certamente, apoiarão transformações estruturais que afetarão a saúde de suas pessoas.
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Anderson Siqueira é CEO e fundador da Consense educação para as relações, especialista em psicologia organizacional e governança corporativa.