No último artigo que escrevi, conversamos sobre como o autoconhecimento se tornou parte fundamental da busca por ser um profissional completo. Falamos também sobre os cinco benefícios alcançados pelos líderes que incluem o “conhece-te a ti mesmo” em sua rotina de vida e trabalho. Para ler o texto completo, clique aqui.
Hoje, vamos no caminho oposto: O que acontece quando não gastamos tempo intencional em nos conhecer? A resposta mais óbvia seria dizer: não recebo os tais benefícios que foram falados anteriormente. Porém, a resposta real é um pouco mais complicada.
Além de, naturalmente, não ganharmos benefícios como aprimorar o trabalho e a comunicação junto à equipe, a falta de autoconhecimento, especialmente nos aspectos psicológicos e emocionais, pode impedir que sonhos, objetivos e resultados, pessoais e profissionais, sejam alcançados e/ou se mantenham sustentáveis ao longo da vida.
Importante reforçar que enfatizar estes aspectos não significa diminuir a importância de habilidades técnicas e cognitivas, como a visão sistêmica, domínio de conceitos especializados, pensamento crítico, capacidade de argumentação e tantos outros. Porém, todos nós já sabemos (seja através de nossas experiências ou das pessoas ao nosso redor) que elas não são suficientes para fazer alguém entregar algo extraordinário no longo prazo. É preciso saber aprimorar nossas habilidades emocionais, utilizar os pontos fortes de nossa personalidade e aprender com as fraquezas.
Levanto a seguir alguns desafios que podem ser vivenciados com frequência por pessoas com pouco autoconhecimento.
Dificuldade de reconhecer como seus sentimentos e personalidade afetam a si mesmo, as pessoas ao redor e a performance de trabalho.
Talvez esta seja a característica mais usual quando se fala de baixo autoconhecimento: a inabilidade de reconhecer que estes elementos subjetivos e abstratos estão presentes no jeito que escrevemos nossos e-mails, nos comportamos nos encontros corporativos e priorizamos nossas tarefas. Além disso, “nenhum homem é uma ilha”1. Portanto, é inútil pensar que nossa aptidão para lidar com quem somos (ou a falta dela) não afetará as pessoas ao nosso redor, sejam elas liderados, líderes, pares, colegas de trabalho, familiares ou amigos.
1famosa frase criada pelo poeta inglês John Donne em 1624.
Pouco entendimento ou pouca atenção a respeito de seus valores pessoais e objetivos de longo prazo.
O cantor Zeca Pagodinho resumiu este sentimento na famosa letra “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Quando um profissional não tem bom autoconhecimento, tende a construir para si mesmo armadilhas que terá dificuldade para sair futuramente. Um exemplo clássico está em aceitar empregos ou projetos por motivos que são bons no curto prazo – como dinheiro ou status – mas que não sustentarão a motivação e a alta performance a longo prazo. Acredite, alguém que se conhece e sabe o que de fato quer e procura, tende a dizer mais não do que sim para as diversas oportunidades que estão diante de si.
Objeção em falar aberta e corretamente sobre o que está sentindo e como isso impacta o trabalho.
Embora esteja no mesmo campo do item número um, é importante ressaltar que são impasses diferentes. Entender seu modus operandi e como ele afeta suas rotinas é tão fundamental quanto saber falar sobre isso quando se fizer necessário. Muitos profissionais acreditam ser fraqueza dizer abertamente que não estão 100% seguros diante de uma decisão ou que uma determinada situação alimenta seus gatilhos de estresse, mas este é justamente um símbolo de autoconhecimento elevado e bem desenvolvido.
Desconforto em admitir falhas ou limitações.
Qualquer profissional, por melhor que seja, pode crescer, expandir seus conhecimentos e superar suas entregas anteriores. Além disso, qualquer ser humano está sujeito à erros. Quando colocadas diante dessa realidade, pessoas com baixo autoconhecimento tendem a interpretar críticas como ameaças ou falhas pessoais, reagindo de forma explosiva ou vitimista, sem proporcionar a si mesmo a reflexão necessária para atingir o desenvolvimento de novas competências e aprendizados.
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Não combater excessos de confiança ou de insegurança.
Autoconhecimento gera equilíbrio, ter clareza sobre seus principais pontos fortes e fracos. Isso ajuda a saber quando dizer não para aquilo que está além de sua capacidade e não cair no ego de não saber pedir ajuda. Igualmente, significa saber quando é preciso expor e lutar por seus pensamentos, ideias e ideais.
Importante: naturalmente, não é necessário desistir completamente de um projeto desafiador, mas o profissional que conhece a si mesmo sabe que precisa criar diferentes soluções diante de algo que está além de sua capacidade, como criar uma equipe, convocar um parceiro, entre outros.
Dificuldade de canalizar impulsos ou sentimentos ruins e reutilizá-los de forma útil.
Todos estamos propensos a sentir frustração, raiva e outros tipos de desconfortos. Onde há pessoas convivendo juntas, haverá espaço para desgaste. Mas quem conhece e sabe lidar consigo mesmo, tem autocontrole suficiente para, diante de uma situação desafiadora, dar um passo atrás, questionar e refletir sobre os motivos que o colocaram naquele contexto e planejar a resposta mais adequada.
Intolerância e descontrole excessivos diante de conflitos.
Como já dito no item 3, quando há pouco autoconhecimento é fácil perder a visão do que alimenta nosso estresse ou ultrapassa nossos limites naturais. O mesmo acontece diante dos conflitos. Pessoas possuem diferentes personalidades e saber o que nos afeta ou não garante maior autocontrole diante de pensamentos, argumentações e até mesmo condutas distintas das que são mais usuais para nós.
Dificuldade de vivenciar bem um ambiente ambíguo ou em constante mudança.
Mudar é desconfortável para todas as pessoas, porém o autoconhecimento permite que cada um de nós faça uma avaliação sobre quais são os aspectos da mudança que mais nos drenam e quais deles podem nos energizar. Profissionais que se conhecem podem tirar vantagem disso não só para si mesmos, mas para apoiar e liderar mudanças institucionais.
O autor, psicólogo e jornalista Daniel Goleman, famoso por tornar conhecido o conceito de Inteligência Emocional, disse certa vez: “As pessoas que avaliam a si mesmas de forma honesta estão preparadas para fazer o mesmo pelas organizações que estão gerenciando”. Para mim, este é um dos mais importantes argumentos a respeito da necessidade de desenvolvermos nossa autopercepção e autoconhecimento de uma forma intencional e comprometida. Se fizermos isso por nós mesmos, estaremos preparados para fazer o mesmo pelas pessoas, departamentos e empresas com quem nos relacionamos.
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Camila Carvalho é jornalista e especialista em educação corporativa. Atua como educadora em temas como experiência do cliente, cultura e desenvolvimento organizacional, possui experiência na construção de processos organizacionais de alta performance e em sistemas de tomada de decisão alinhados e participativos.