Recentemente, ouvia o professor e historiador Leandro Karnal em uma aula. O tema se referia às competências necessárias para enfrentar tempos tão tempestuosos como os que vivemos. Em determinado ponto, ele disse: “não existe profissional que tenha qualquer perspectiva de sucesso que não invista permanentemente em formação. Não existe mais a figura do formado, existe a figura do formando”, o que me fez refletir por alguns dias. Conhecimento e aprendizado contínuo se tornaram o ouro e a prata do século XXI.
Considero que se você se sentasse com a maioria daqueles que estão em posições estratégicas das empresas que estão fazendo diferença no mercado, eles diriam o mesmo. Para pessoas que exercem posições de liderança, a realidade é ainda mais intensa já que esse papel naturalmente demanda a habilidade de ser um facilitador em prol da equipe que trabalha ao lado. Felizmente, também começamos a perceber que o termo formação é muito mais amplo do que estudar determinadas competências técnicas que nos fariam mais especialistas ou aprender quais são as soft skills mais desejadas do momento. A formação que faz diferença leva em conta quem você é de forma integral e sistêmica.
Portanto, não é possível pensar em crescimento ou formação sem pensar em autoconhecimento.
Entender em qual contexto está inserido, conhecer seu propósito, quais lições que suas experiências ensinam, entre outros elementos, são fatores tão importantes quanto ter empatia, falar inglês ou saber o que está acontecendo de mais recente no seu mercado profissional. Nenhum deles deve ser deixado de fora da equação. Arrisco dizer que sem os primeiros, não pode haver equilíbrio entre os diversos papeis que cada um de nós é convidado a assumir durante a vida.
Existem, naturalmente, diversos métodos e ferramentas para desenvolver o conhecimento sobre si mesmo. Mas, particularmente, acredito que entender seu tipo psicológico é uma base interessante para iniciar ou aprofundar essa jornada. Isso por que os itens determinantes para a “auto compreensão”, como os que foram citados acima, serão, na maior parte das vezes, filtrados e processados por esse sistema de personalidade.
Na Consense, o instrumento oficial que usamos para compreender a personalidade é o MBTI. Em resumo, ele é um dos mais antigos e utilizados instrumentos de investigação da personalidade do mercado e baseados nos estudos de Carl Jung. Caso queira mais detalhes sobre o que é o MBTI e como ele é aplicado, clique aqui.
Assim, sem mais delongas, quero compartilhar cinco benefícios e aprendizados alcançados por um autoconhecimento mais aprimorado, especialmente quando o assunto é liderança:
Os outros são os outros
Talvez o primeiro e mais importante aprendizado que temos quando buscamos autoconhecimento é que não somos iguais a ninguém. Assim como a impressão digital, a retina e até as batidas do coração de cada ser humano são únicas, nosso conjunto de habilidades, competências e experiências também nos faz incomparáveis.
Igualmente, isso significa que os outros não são como nós. Ou seja, cada pessoa de uma equipe tem sua própria personalidade, além de características, perspectivas, pontos fortes e pontos a desenvolver. O líder habilidoso usa isso a seu favor, já que está em posição de promover times que explorem a melhor entrega de cada profissional, garantindo ambientes que alimentem diversidade, autonomia e acompanhamento.
Mais conhecimento sobre a energia da equipe
Parece algo místico, mas não é. Quando se aprende sobre personalidade, especialmente quando se fala em MBTI, é possível perceber quais cenários e atividades podem recarregar ou sugar potência mental, tanto sua quanto da equipe. Exemplo: há uma boa chance de que pessoas que costumeiramente ganham energia ao se manterem em contato com o mundo interno, de teorias e conceitos, estejam altamente desgastadas após um dia recheado com diversas reuniões (ainda mais, em tempos de videoconferências, onde não existe mais o tempo de deslocamento para dar uma recarregada).
Por outro lado, aqueles que se energizam com o constante contato com o mundo externo, de coisas e pessoas, podem se sentir deprimidos ao final de um dia de isolamento ou foco excessivo, sem troca. Tudo isso impacta no bom andamento de seu time. Como líder, você pode se beneficiar deste conhecimento em planejamentos e atribuições, além de orientações, caso sejam necessárias. E não é preciso ser especialista no tema para mapear esta característica. Observação e algumas perguntas serão suficientes para determinar superficialmente em qual ritmo cada pessoa trabalha.
Conhecer o que naturalmente é importante para mim (e o que não é)
Este ponto é extremamente importante no que diz respeito a tomada de decisão. Conhecer seu estilo de personalidade e saber aplica-lo à liderança significa saber que, quando estiver em modo automático – sem muita consciência do momento presente, em momentos de alta pressão ou de estresse – tenderá a identificar e confiar mais em determinados tipos de informações, nuances ou até falas. Existem aqueles que confiam nos dados, os que preferem gastar tempo olhando para o todo, os que antes de tudo querem determinar a visão de futuro ou que acreditam que todos devem ser incluídos e ouvidos para que a decisão seja mais ampla e aceita.
Certamente, não existe um estilo ideal. Sempre há pelo menos uma perspectiva que não nos é natural, mas necessária para a melhor resolução. Ter consciência disso é, como diz o ditado, meio caminho andado. Deste modo, você pode encontrar ferramentas (e, em alguns casos, pessoas) que auxiliem a expandir o processo e assegurar que seja a escolha mais assertiva possível.
Recentemente, escrevemos um outro artigo aqui na Consense, sobre como o autoconhecimento beneficia a tomada de decisão. Acredito que você pode se interessar por esse conhecimento também. Para acessar, clique aqui.
Aprimorar minha comunicação com a equipe
Sabemos que a comunicação é uma das ferramentas mais poderosas que temos, tanto para o bem, como para o mal. Seu uso equivocado é responsável pela maioria dos desalinhamentos e desgastes do dia a dia de trabalho. Conhecer sua personalidade naturalmente ajudará a entender melhor seu próprio estilo de comunicação e como utilizá-lo em prol de garantir a entrega e o recebimento de informações qualificadas e de valor.
Lembre-se que, como dito no ponto 1, você não é igual a ninguém, logo, não deve se acomodar em conceitos obsoletos e até irresponsáveis como “eu dei a informação, foram eles que não entenderam”. Garantir o entendimento é responsabilidade do emissor e, como líder, boa parte de sua responsabilidade é transmitir os diversos dados que a companhia produz nas diversas instâncias e apoiar seu time no processamento e resposta dos mesmos.
Conhecimento sobre gatilhos que me colocam em estresse
Ter limites é parte da existência de qualquer ser humano. Portanto, o autoconhecimento é fundamental para saber quais são suas próprias fronteiras e perceber quando está próximo delas. Todos temos dificuldade em lidar com determinadas situações, contextos e informações e também já notamos que a ideia de separação plena de vida pessoal e profissional não funciona tão bem quanto diziam. Somos um ser inteiro e o que acontece em uma esfera de nossas vidas gera consequências em outras.
Quando o conhecimento sobre a personalidade é colocado em prática, pode ser mais fácil (veja que eu digo “pode ser”) perceber quando estamos diante de estímulos de estresse e como reagimos em primeiro plano. Assim, existe espaço para lidar com gatilhos de forma mais aderente a quem somos. Inclusive, podemos desenvolver planos de ação para que isso não interfira no bom ambiente criado junto ao time ou demais profissionais com quem trabalhamos e que não interfira no processo de decisão, citado no item 2.
Incentivo você a expandir a visão sobre o que significa ser um profissional altamente qualificado e desenvolver seu autoconhecimento, iniciando por sua própria personalidade. Posso afirmar por experiência que é um caminho sem volta e com diversos benefícios, que transbordam para as diferentes áreas de nossas vidas e nos permitem encontrar resiliência e perseverança, mesmo em meio a tempos incertos como os que enfrentamos dia após dia.
Camila Carvalho é jornalista e especialista em educação corporativa. Atua como educadora em temas como experiência do cliente, cultura e desenvolvimento organizacional, possui experiência na construção de processos organizacionais de alta performance e em sistemas de tomada de decisão alinhados e participativos.