Muita gente torce o nariz para o gerúndio. E, apesar desta forma verbal ser absolutamente correta, seu uso se transformou em polêmica e muita gente o assume como erro ou falta de beleza na comunicação.
Gerúndio é uma forma verbal que indica continuidade. Quando eu digo que estou terminando a tarefa que alguém me pediu, dou clareza de que eu já comecei, mas ainda não terminei. Está em processo. O fato é que da mesma maneira que usamos inadequadamente um monte de outras regras do nosso querido português, com o gerúndio não é diferente. Surge então o gerundismo. Espécie de vício que domina conversas inteiras. Exagerando na continuidade.
Nas empresas, o gerúndio se traduz de forma bastante evidente, pois são aquelas ações que já começaram, mas ainda não foram entregues. Absolutamente normal para o cotidiano de qualquer negócio e que demonstra que existe ação e movimento.
Porém, e você já sabia que eu chegaria nesse ponto, existe uma anomalia que acomete os mais diferentes tipos de equipes, áreas e companhias. O gerundismo empresarial. É o projeto que está eternamente em andamento, é a decisão que está eternamente na mão daquele líder, é a mudança que fica eternamente a ponto de acontecer. Sempre acontecendo, sempre andando, mas nunca finalizada e encerrada.
E aqui cabe uma reflexão importante sobre a forma como você tem tocado seu negócio, seja um líder ou não: tem usado adequadamente o gerúndio? Tem combinado adequadamente iniciativas e acabativas? Tem feito o acompanhamento adequado dos projetos e combinados que lhes são responsabilidade?
O gerundismo empresarial ataca quando não existe valorização dos recursos, das pessoas e do cliente. Quando existe falta de foco e de controle adequado das metas e dos objetivos. O gerundismo cria uma cultura entediante, estagnada e oca. E o faz por que não existe realização sem finalizações.
O gerundismo também produz, silenciosamente, a cultura do descrédito, da ausência de credibilidade. E isso, cedo ou tarde, mina as melhores contribuições da equipe, que perde produtividade, qualidade e motivação. Afinal, para que colocarmos esforço em algo do qual não veremos o final?
Não há o que celebrar apenas iniciando projetos, anunciando mudanças e promovendo visões vazias do futuro. Um negócio é feito de ações, com começo, meio e fim. Gerúndio na medida certa. Portanto, comece a usar também o pretérito perfeito em seu cotidiano profissional, acabando, finalizando e, substancialmente, realizando.
Um forte abraço,
Anderson Siqueira
Anderson Siqueira é comunicólogo, idealizador da Consense, especialista em psicologia organizacional e em aplicações e devolutivas do MBTI. Inspirado no cultivo de ambientes de trabalho mais vivos e conscientes, construiu experiências em temas como governança, inovação, liderança e rotinas de trabalho. Se dedica principalmente ao estudo das relações humanas no contexto empresarial e à educação como forma de gerir empresas inovadoras e sustentáveis.