
Estamos sempre a pensar sobre as mudanças em nossas vidas e, muitas vezes, a buscar um estado de permanência. Somos apegados ao controle máximo de todas as variáveis do nosso destino, pelo menos tentamos! E essa talvez seja uma de nossas principais características: Um ser capaz de entender em nível consciente a impermanência da vida, mas curiosamente incapaz de vivenciá-la quando o sol de domingo torna-se uma tempestade.
Ao final deste texto não seremos os mesmos, aliás, a cada linha, palavra e ar respirado mudamos. A mudança é a única certeza da vida humana, não existe nada que não mude. Tudo, o tempo todo, muda. Entretanto, somos seres lineares e tendemos a ficar acostumados com estados mais lentos de mudança, esquecemo-nos muitas vezes de que ela, apesar da demora, virá. O resultado é que ou nos acomodamos ou tentamos controlar estes estados, a fim de preservá-los.
Conta-se a história do sapo escaldado, um experimento que nos mostra que nem sempre a mudança é percebida e nosso comportamento nos trai: Ao se colocar um sapo em uma panela com água fervente, ele logo pulará reagindo à mudança repentina da temperatura. Porém, se a água estiver em temperatura ambiente, ele ficará tranquilo, pode-se esquentar gradativamente a água e o sapo não perceberá as mudanças e se acostumará com elas, até que se alcance a mesma temperatura fervente do primeiro experimento e ele morrerá escaldado, sem forças para escapar.
Um exemplo cruel, mas que mostra o comportamento que também assumimos diante das transformações em nossas vidas. Não colocamos atenção aos pequenos e, muitas vezes, invisíveis, sinais de mudança. Vamos deixando de lado e nos acomodando com eles, sem conectá-los de maneira a perceber que têm relação um com o outro. Nos adaptamos para reagir às mudanças de grande impacto, mas não para perceber as nuances que formam outros tipos de mudanças mais profundas, dando-nos a impressão de que as coisas são permanentes.
E elas não são. É preciso o entendimento de que o futuro é a consequência de duas grandes variáveis: uma impulsionadora e outra norteadora. A primeira, relacionada à semente das ações e motivações que orientam nossas escolhas. A segunda, às consequências das escolhas que fazemos diante das mudanças, que norteiam nossa trajetória e que podem, inclusive, mudar nossas motivações iniciais. Ou seja, nosso futuro depende de nossa percepção da realidade em constante mudança, e é a nossa percepção que determina nossas ações perante as nuances das mudanças mais profundas, que determinam o futuro. Um ciclo, de fato.
Sabe quando pensamos: Puxa, nunca imaginei que isso poderia acontecer? É neste momento que o futuro se concretiza e parece apenas uma coincidência. Porém, a verdade é que, de fato, existem apenas o presente e a nossa capacidade de construir a partir das nossas escolhas e motivações. Tudo o que acontece hoje tem origem na forma como usamos deste “poder” no momento presente de outrora. E é por isso que a mudança é a única constante da vida, e é por este mesmo motivo ela nos confunde e amedronta, pois é semente e fruto da qualidade de nossas percepções.
Somadas ao longo dos tempos, as variações mínimas ocorridas em poucos instantes resultam em transformações significativas. Algo que, a princípio, pode se mostrar ruim ou incômodo, já que tudo o que temos de bom – os sentimentos, amores, relacionamentos e até a nossa sabedoria – invariavelmente, se desvanecem e se transformam com o toque do tempo. Porém, podemos nos dar conta de que nada do que vivenciamos, por pior ou melhor que seja, é para sempre. O que nos ajuda a valorizar e relativizar cada momento, usando do nosso poder de escolha para torna-lo único na essência de ser e estar presente.
Anderson Siqueira