Já passou pela situação de ouvir ou declarar a frase: “O problema foi de comunicação”? ou “A comunicação é a raiz de todos os problemas”? É impressionante a quantidade de vezes que chegamos a essa conclusão. A comunicação tem um papel de vilã e mocinha em nossa história, que coloca inveja em qualquer astro de cinema. Um leque alarmante e ao mesmo tempo inspirador de possibilidades, que deixa alguns intrigados ao pensar: É mesmo tão importante a comunicação? Por que ela é tão influente e abrangente?
A palavra tem origem no latim que, em suma, se traduz em “tornar comum”. Podemos pensar que se trata de “tirar” algo do íntimo e “imputá-lo” no íntimo de outrem. Quando olhamos para a palavra “comum” falamos de algo partilhado, em comunhão, que pertence a mais de um e com “alguéns”. Essa historinha deixa evidente que comunicar não é uma atividade empresarial ou uma simples ação verbal “utilizada” quando queremos. É fato a obrigatoriedade vital da comunicação em níveis mais do que relacionais.
Ao estudar áreas médicas, por exemplo, aprende-se comunicação. Lá, os futuros médicos compreendem como o nosso corpo “comunga” funções, ritmos, recursos e processos físicos e psicológicos. A respiração, por exemplo, torna o ar comum aos pulmões, que por sua vez o torna comum a todas as células do corpo, por meio da rede sanguínea. Os hormônios são conhecidos, inclusive, como mensageiros químicos – coincidência? – não, a comunicação está presente nas sinapses, nas relações intra e inter celulares e, mais do que isso, nucleares. Numa empresa, ou seja, em um organismo social ou comunidade, acontece o mesmo ao passo que comungamos informações, recursos e poder.
Ao entender a comunicação neste nível podemos chegar à conclusão de que tudo ao nosso redor depende de um cuidado com ela. E é aqui que entendemos o porquê das frases do início do texto, elas são realidade justamente por que falta esse cuidado e a consciência de que a comunicação é mais do que uma disciplina, ela é a própria vida. Viver é partilhar, é comunicar e é tornar-se comum ao outro.
Nós somos um processo de comunicação ambulante, nossos gestos, nossa aparência, nosso saber, nossas informações e o nosso jeito de ser comunicam algo. A comunicação pode ser encarada sim como a raiz de todos os problemas, mas raízes geram problemas quando a semente é ruim. Sementes boas geram raízes boas e, por fim, bons frutos. É, desta forma, imprescindível, avaliarmos a qualidade de nossas raízes e frutos. Que tal?
Anderson Siqueira