
Todos os dias, procuramos maneiras e ferramentas para solucionar nossos problemas e desafios. Como ter sucesso no trabalho, nos compromissos com amigos, familiares ou cônjuges. Percorremos colégios, universidades e escolas de negócios em busca de receitas para conquistar e superar o que o mercado chama de “desafios em busca da felicidade”. Tudo muito voltado para si e para o próprio benefício. Pare e pense: o que tem tomado sua mente neste sentido? Quais problemas quer ver resolvidos? Quais conquistas quer promover? Onde quer chegar?
Posso garantir que nenhuma das opções exclui outras pessoas da solução. Certo?
Relacionar-se. Eis um dos elementos principais da vida e que nos difere de outros seres vivos. O desafio, porém, está no fato de que muitas vezes escolhemos ignorar que a nossa humanidade surge do processo relacional que nos é indispensável.
Mario Sérgio Cortella diz, em um de seus livros, que não existe vivência para o ser humano, mas apenas convivência. Eu diria que, em um âmbito mais amplo, existe vivência ao considerarmos nossa essência e nossa individualidade. Desta forma, compomos um cenário completo: vivência e convivência. Uma relação saudável entre o ato de perceber-se como “parte” e como “todo”.
Não se trata, todavia, de dependência, pois algumas pessoas acreditam depender de alguém para realizar coisas. Erro cruel. Não dependemos das pessoas, mas fazemos parte de um mesmo Todo, de uma mesma composição, ou seja, interdependentes e corresponsáveis. Isso explica por que enfrentamos tantos desafios nas questões levantadas aqui: ou achamos que podemos fazer tudo sozinhos ou por acreditarmos que não fazemos nada sem os outros, nos submetemos a uma posição de escravos das decisões alheias.
Para entender a interdependência é preciso perceber as nuances que vão além da nossa realidade individual. Por exemplo, uma descoberta recente mostrou que florestas antigas possuem uma espécie de “Árvore Mãe”, que concentra uma rede de raízes que garante a história biológica daquele bioma.
Quando algo atinge outras árvores, como um incêndio, a “Mãe” detém a capacidade de possibilitar que tudo volte ao normal. E mais, a transferência de nutrientes entre as raízes possibilita que árvores em locais distantes também tenham acesso ao que não está disponível por perto. Note: todas elas sobrevivem sozinhas, mas se relacionam para preservar o Todo: a floresta.
[sc name=”texto-destacado” texto=”Isso explica por que enfrentamos tantos desafios nas questões levantadas aqui: ou achamos que podemos fazer tudo sozinhos ou por acreditarmos que não fazemos nada sem os outros, nos submetemos a uma posição de escravos das decisões alheias.” ]É inegável a habilidade que a natureza tem de enfrentar a si mesma pelo bem da grande rede da vida. Para nós, fica um recado muito profundo e de resgate: quando perdemos este propósito? Quando substituímos a importância das nossas relações sistêmicas pelos desafios individuais do dia-a-dia? Como alcançaremos uma consciência coletiva que preserve o Todo e se sinta corresponsável pelo cultivo de mais vida e menos morte?
Quiçá, quando nos entendermos parte dessa teia grandiosa. Quando tivermos como propósito de vida algo que transcenda a nos mesmos ou, enfim, quando nos juntarmos ao Todo pela sua preservação.
Anderson Siqueira
Idealizador e educador na Consense educação para as relações