O trabalho em equipe traz inúmeras riquezas para o cotidiano. Ao optarmos pela construção coletiva, nos afastamos da apatia e da solidão e garantimos um trabalho mais rico e criativo, já que (como diz o ditado) duas cabeças pensam melhor do que uma. Porém, a doença do exagero pode estragar tudo, como sempre. Seja pela forma errada nos momentos em que se juntam as pessoas, seja pela forma errada quando se separam as pessoas.
Trabalhar em equipe não significa estar o tempo todo junto, aliás, a base de uma equipe é a confiança, que deve existir também nos momentos em que o trabalho requer a incompreendida autonomia.
Quando folheamos revistas sobre automóveis encontramos, dentre outras coisas, informações sobre a autonomia dos modelos. Segundo elas, trata-se da distância que o carro pode percorrer com o consumo total do combustível a bordo. Eis um bom exemplo para falar sobre autonomia, pois ao entendermos melhor do assunto, vemos que o tempo, a situação da estrada, a qualidade do combustível e, até mesmo, do motorista, influenciam na autonomia do veículo. Premissas que determinam quanto tempo ele ficará sem a necessidade de repor seu combustível.
É muito comum no trabalho em equipe e em nosso dia a dia esquecermos a sútil diferença entre autonomia e independência. A primeira diz respeito a governar-se por suas próprias regras, a segunda aborda uma vida totalmente sem dependência, que pode ser entendida como sem regras, por exemplo. No caso do carro, não se trata de independência, mas de uma autonomia lastreada nas premissas relacionadas à quantidade e qualidade do combustível e capacidades técnicas. A independência é diferente da autonomia, um processo alheio às premissas.
A autonomia requer combinados e clareza de “até onde se pode ir”. Uma decisão baseada no grau de maturidade de cada membro e que deve ser pautada na relação de confiança existente e nos valores do grupo. Questão de consciência e responsabilidade, relacionadas aos objetivos, significado e alicerces do negócio.
Uma equipe deve viver alternando entre consenso – quando se constrói em grupo premissas e significados – e autonomia – quando se faz uso deste combustível. O independente não vive em equipe, acredita que já sabe e que não precisa destes fundamentos, como um nômade, sem ligações com suas raízes. O autônomo vive sua essência partilhada com o grupo, com responsabilidade e fazendo-se presente, mesmo ausente. Volta ao time para abastecer-se da cultura e dos porquês, distancia-se dele para proliferar um ideal e ampliar o agir.
Anderson Siqueira