
Nosso corpo vivo é um exemplo magnífico para inúmeras questões existenciais. Entre todas essas possíveis metáforas, gosto muito de pensar que ele é um exemplo de organização e coletividade. Apesar de sempre discutirmos sobre as importâncias individuais de órgãos ou sistemas (quem nunca?!) não há como não ficar intrigado com tamanha humildade em nosso organismo. E é fato que o corpo perde sua integridade quando qualquer (QUALQUER) parte dele está com problema ou fora da toada principal que o governa. E aqui temos, na minha visão, três princípios muito importantes que ditam a existência de um organismo como o nosso e podem servir de exemplo para nossas organizações sociais.
O primeiro é o princípio da Integridade. O corpo existe a partir da manutenção de sua inteireza, coerência e alinhamento. Uma das teorias de Humberto Maturana, chamada autopoiese, define ser vivo como aquele que produz a si mesmo e autorregula-se. Isso significa que a conservação da autopoiese é uma condição sistêmica para a vida. Com isso, fica muito claro, que o objetivo maior é cultivar o Todo. Nosso organismo se desintegra quando perde parte de si e em situações como esta, é preciso se reorganizar para tornar-se novamente um Todo com o que restou.
O segundo princípio é a capacidade de servir de cada sistema ou órgão. Desde a menor parte, todas as células, sistemas e conexões têm clareza de que existem para servir a algo maior do que elas. Conhecem seus caminhos, sua missão e, sobretudo, para quem fazem. Servir é um verbo cheio de significados e vale ressaltar sua força e consistência quando entendemos que servir é, acima de tudo, um ato de amor e generosidade. Se na integridade, o corpo preserva sua inteireza coletiva, no servir, as partes preservam sua missão individual. Um trabalho incrível, que nos mostra a importância de um propósito maior que nós mesmos, o terceiro item.
Por fim, podemos aprender que a contribuição coletiva que é feita pelo organismo garante sua existência. Podemos entender como um propósito, que movimenta não apenas o Todo que nos constitui individualmente, mas o Todo que constitui o Universo. Aqui, vemos que a soma das partes ultrapassa os limites matemáticos, pois não enxergamos células, braços e cabelo, vemos, todavia, um ser humano, inteiro e complexo por natureza. O nosso organismo nos ensina, que para ser Um é preciso ser Todo. E, apenas servindo (juntos) ao propósito de estarmos inteiros teremos a consciência coletiva capaz de ser Um e Todo ao mesmo tempo.
Anderson Siqueira