A primeira coisa a se dizer sobre rotatividade de funcionários é que empresas são, praticamente, seres vivos. Orgânicas, ora crescendo, ora se retraindo, mas sempre em movimento. Por este motivo, o campo de estudo da gestão de pessoas ensina que um dos índices que deve ser medido e entendido nas companhias é o de rotatividade de funcionários, ou seja, quantas pessoas são desligadas e contratadas em um determinado ciclo de tempo.
As causas da alta rotatividade estão relacionadas a uma série de questões, internas e externas. Assim, não é difícil encontrar empresas que sofram com alta rotatividade de funcionários, mas que não percebem quais fatores a estão ocasionando. Alguns destes fatores, como o relacionamento com o cliente e a percepção de contribuição no trabalho, até mesmo passam despercebidos nestas avaliações. Um engano perigoso.
Existe ainda um outro problema, talvez mais recorrente nas empresas, que possui o mesmo viés: o presenteísmo. Neste caso, o colaborador está no ambiente de trabalho, porém, com a falta de conexão, sua produtividade é altamente comprometida. Uma tarefa que poderia levar duas horas, leva quatro e as distrações sempre estão na lista de prioridades. Estão presentes em corpo, mas nem sempre em mente e coração.
Estão presentes
em corpo, mas nem
sempre em mente
e coração
Abaixo, relaciono apenas dois motivos internos pelos quais vemos alta rotatividade de funcionários e presenteísmo nas empresas por onde passamos:
Falta de visão de futuro clara
Esta é uma questão que recorrentemente aponto como causadora de problemas. E acrescento mais este à lista. Quando as pessoas não têm percepção clara de para onde estão indo, sua entrega se torna medíocre e pouco eficaz.
A falta da clareza sobre quais caminhos a companhia decide trilhar a cada fase que vive geram intensa insegurança. E nesse ambiente, o sentimento de “cada um por si e Deus por todos” vai crescendo. Em pouco tempo, encontramos pessoas e equipes inteiras se comportando de maneira territorialista, perdendo a noção de cliente interno, profundamente pressionadas a entregarem resultados a qualquer custo para provarem por que são indispensáveis na empresa.
Este cenário cobra seu preço: colaboradores doentes – psicológica e fisicamente, equipes desconectadas entre si e com as demais áreas da empresa e, claro, pouca ou nenhuma atenção no cliente. O sentimento de preservação se torna absoluto e o foco se torna sobreviver, mesmo que abrindo mão da sua capacidade de contribuição e realização.
Falta do sentimento de reconhecimento
Os resultados de nossos diagnósticos apontam que esta é uma realidade muito presente nos ambientes coorporativos: sistemas de reconhecimento fracos, que não se tornam de fato uma cultura dentro do ecossistema da empresa.
E o termo aqui em jogo – reconhecimento – não está ligado unicamente a questões financeiras, mas à necessidade de, independente de sua função, se sentir pertencente, realizador e, até indispensável, dentro da cadeia de informações, atendimento e entrega para o cliente.
Poucas são as companhias onde a cultura do elogio vence a da crítica ou onde o erro torna-se aprendizado. Quando isso não acontece, em grande parte dos casos, o colaborador não pensará duas vezes em abraçar uma nova oportunidade na carreira quando ela surgir. Pior, em épocas de recessão como a nossa, acionar o instinto de sobrevivência e abrir espaço para o presenteísmo.
Sentimento de “empresa de transição”
Quando combinadas, estas duas situações geram nos colaboradores o sentimento de “empresa de passagem” ou “empresa de transição”. Assim, o local atual de trabalho é apenas um lugar onde ele está por um período para acumular experiência ao currículo, para entender melhor o mercado de atuação ou para obter ganhos financeiros enquanto a oportunidade sonhada não se apresenta.
Não há como esperar que a entrega de pessoas que se encontram nesse cenário seja de fato baseada em suas melhores habilidades, pois não há uma conexão que vá além. Portanto, se sua empresa tem percebido alta rotatividade de funcionários ou alto nível de presenteísmo, é fundamental analisar, de forma franca e honesta, os itens acima.
E acredite: cultivar diariamente um ambiente de visão e pertencimento é a melhor escolha que pode fazer, por você mesmo, pelo cliente, pela companhia, pelas pessoas e pelo resultado. Pessoas engajadas estão dispostas a entregar todo o seu potencial. Permita que elas façam isso dentro das suas paredes e, de preferência, presentes de verdade.
Anderson Siqueira
Idealizador e educador na Consense Educação para as relações