Descobrir a existência e os benefícios de um instrumento de personalidade é um divisor de águas para muita gente. Aquela emoção de ler um texto que parece ter sido escrito por alguém cuja intimidade você não sabia ser possível existir. É sempre um momento de surpresa e muitos insights.
O único problema é que muitas das vezes, passamos a acreditar que podemos usar aquele conhecimento como uma espécie de máquina de identificação. Usando para classificar, organizar, julgar e considerar as outras pessoas.
Seja por falta de profundidade nos momentos em que se conhece a ferramenta, seja pela natural euforia de querer que todos saibam e conheçam aquele assunto novo, é preciso cuidado para não fazer besteira com a informação recebida.
Para ajudar você a não cometer essas gafes, fiz uma lista do que não fazer ao usar um teste de personalidade. Importante considerar que uso como base o instrumento no qual sou certificado e com o qual trabalho há quase oito anos, o MBTI.
Identificar o perfil ou tipo das outras pessoas
A primeira e a mais comum das gafes. Achar que possuímos conhecimento suficiente para sair classificando pessoas. Não faça isso. Você vai errar e ainda afastar a pessoa do conhecimento valioso que você adquiriu.
Iniciar uma estratégia altamente adaptável de acordo com o perfil das pessoas
Existem dois equívocos aqui. O primeiro é querer adivinhar o tipo do outro. O segundo é começar a tratá-lo como supõe ser o jeito de tratar a pessoa. Não se tratam pessoas de acordo com seu perfil. O melhor a fazer é tratar o outro como outro, inteiro e complexo. Sem classificações.
Indicar para todos que façam teste na internet para descobrir o perfil
Se você participou de um assessment como o MBTI, por exemplo, significa que alguém pagou uma licença para você. O fato é que instrumentos como este não são dos mais baratos. E isso acontece por que o esforço para se alcançar a confiabilidade é imenso. Logo, manter dados, estatísticas e assertividade custa o suficiente para investir de forma adequada.
Isso por si só já deveria convencer você, mas existe ainda o fato de que um teste de internet sequer tem uma garantia adequada sobre sua assertividade. No caso do MBTI, já vi muita gente se proclamando um determinado tipo e depois perceber que não era.
Usar um perfil para avaliar pessoas
Eu garanto que se você conheceu um instrumento de personalidade através de alguém minimamente sério e comprometido, deve ter ouvido que ele não deve ser usado como o único instrumento de avaliação. Então, repita isso sempre que estiver tentado a acreditar que existem perfis melhores ou piores pela simples informação sobre sua personalidade.
Somos seres complexos e dinâmicos. Uma pessoa não pode ser compreendida isoladamente, mas em seu contexto, tempo e espaço, emoções, experiências e aspirações.
Querer montar o time perfeito usando as personalidades para selecionar pessoas
Polêmico este ponto, mas vale refletir. É sabido que a diversidade é crucial para promover mais abrangência e qualidade na produção de ideias e tomada de decisão. Porém, isso não precisa ser alcançado apenas com o dado sobre o perfil das pessoas. Isso pode ser construído de forma cultural e processual, incentivando um ambiente de discussão, abertura ao erro e respeito ao diferente.
Quando pensar nisso, mude o foco para pensar em como usar o conhecimento sobre a personalidade como um ótimo ponto de partida sobre tendências comportamentais diante das situações de colaboração, por exemplo. Como cada perfil reage de forma parecida ou diferente nestas situações. A riqueza ficará por conta da ampliação da consciência oriunda do autoconhecimento e do comprometimento com o desenvolvimento.
Os testes de personalidade e tendências de comportamento sempre estiveram no limiar entre a adoração e o ódio. Como em qualquer relação saudável, os extremos nunca são adequados.
Ao compreender completamente um instrumento, é preciso considerar que, por mais completo, ele deve indicar características a partir de uma perspectiva. E que vai ser positiva caso usado de maneira respeitosa e tecnicamente excelente. Se estiver a fim de seguir este caminho, seja bem vindo e desfrute dos benefícios.
Anderson Siqueira
Comunicólogo, idealizador da Consense, especialista em psicologia organizacional e em aplicações e devolutivas do MBTI. Inspirado no cultivo de ambientes de trabalho mais vivos e conscientes, construiu experiências em temas como governança, inovação, liderança e rotinas de trabalho. Se dedica principalmente ao estudo das relações humanas no contexto empresarial e à educação como forma de gerir empresas inovadoras e sustentáveis.