A importância da curiosidade nas empresas
No post passado, que você pode ler aqui, falei um pouco sobre como podemos fazer uma analogia entre a cultura de uma empresa e a língua de um país. A cultura, assim como a linguagem carrega em si mesma uma série de nuances, formatos e conteúdos que dão as pessoas a capacidade de se comunicar e construir algo em comunidade.
Para prosseguirmos o bate-papo, gostaria falar sobre um tópico que, embora não seja novo, se mantém atual e relevante quando falamos sobre cultura empresarial sustentável: a curiosidade.
A princípio, a palavra parece não combinar com o vocabulário corporativo. O termo, na maioria das vezes, não está listado nas competências mais importantes para desenvolver em 2019, especialmente nos segmentos de mercado mais tradicionais. Uma pequena pesquisa me levou a dez artigos sobre habilidades para o futuro nas empresas, porém apenas dois tocaram em algum ponto voltado ou parecido com curiosidade. Porém, acredito que, se existem habilidades essenciais a serem aprendidas por empresas hoje, ela, definitivamente, deveria estar no radar.
Talvez o preconceito com o tema esteja no fato de que facilmente podemos conectar a curiosidade à infantilidade. Quando somos crianças e nossa visão de mundo ainda está sendo construída, normalmente exploramos nossa curiosidade ao máximo, seja através das brincadeiras cheias de imaginação, explorações e a já famosa “fase dos por quês”.
Ao chegarmos à vida adulta e ao mercado de trabalho, não percebemos que, embora com uma nova roupagem, a curiosidade pode (e deve) permanecer em nós e ser usada como uma arma poderosa na busca de soluções diferentes ou até inusitadas para os problemas que enfrentamos no dia a dia. Tendemos a ver a divergência que ela pode causar como um problema que não teremos controle. Porém, mais e mais pesquisas recentes da administração moderna afirmam que ter uma mentalidade curiosa pode levar times e equipes à:
- melhores tomadas de decisão
- maior flexibilidade diante dos diferentes cenários
- mais conhecimento intra e interpessoal
- aumento de empatia entre as pessoas
- maior abertura à inovação
- melhores experiências para os clientes internos e externos.
Acredito que qualquer líder, CEO ou colaborador poderia tirar proveito de uma lista de benefícios como esta. Assim, vejamos como podemos avaliar os níveis de curiosidade saudável em uma empresa.
Como posso medir a curiosidade em minha empresa?
Uma das formas práticas para mensurar o nível de curiosidade de uma companhia é sua abertura ao questionamento. Nestes ambientes culturais, líderes criam espaços e momentos onde os colaboradores se sentem à vontade para questionar determinadas premissas, além de estarem atentos em não dar respostas prontas a seus liderados quando estes estão diante de um dilema. Questionar permite que percepção e raciocínio lógico sejam aguçados e, assim, expandidos.
Outro grande benefício do questionamento é permitir a análise de premissas estanques ou já assumidas como verdade. Veja o que conta a executiva, consultora e líder da Reboot Foundation, Helen Lee Bouygues, especializada em desenvolvimento do pensamento crítico em instituições: “quando trabalho para transformar uma organização, começo a questionar os pressupostos da empresa. Certa vez, visitei dezenas de lojas de uma cadeia de varejo, fingindo ser uma consumidora.
Logo descobri que a empresa havia pressuposto que seus clientes tinham muito mais renda disponível do que realmente possuíam. Essa crença errônea levou a empresa cobrar caro demais por suas roupas. Ela teria lucrado milhões a mais a cada ano se tivesse vendido camisas e calças a preços mais acessíveis.” Permitir que a fase de tomada de decisão seja construída após uma rodada de questionamentos ideais pode ser a diferença entre as respostas colhidas nos próximos anos.
Você pode pensar: “mas não há risco envolvido nisso?”, “será que é a melhor ideia permitir que o status quo seja questionado?”. E este é um receio recorrente. A autora e professora Francesca Gino realizou em 2018 realizou com mais de 3 mil funcionários de diferentes empresas e setores e encontrou os seguintes números: apenas 24% relataram sentir-se continuamente curiosos no emprego e cerca de 70% afirmaram enfrentar barreiras para fazer mais perguntas no trabalho.
A resposta é sim. Sempre haverá risco envolvido em ser curioso, em buscar o caminho menos seguro, as soluções, projetos ou produtos que ainda não foram testados e comprovados. Mas este também é o caminho onde podemos extrair o melhor da capacidade de perspectiva de nossas equipes.
Digo isso, pois a curiosidade e, até a própria criatividade não são competências aristocráticas, reservadas apenas a algumas pessoas “especiais”, como muitos costumam pensar. A base destas competências – tão necessárias em um mercado complexo como o que bate na porta das empresas todos os dias – está na percepção, ou seja, no modo de ver as coisas. Portanto, todas as pessoas, independente de seu perfil, podem contribuir para a criação ou melhoria de novas ideias dentro de um negócio.
Edwin Land, inventor da câmera Polaroid, obteve sua inspiração a partir do questionamento de sua filha, de apenas 3 anos. Pense o que sua empresa poderia ganhar se cada colaborador se tornasse mais curiosa, se os líderes pudessem ver a curiosidade como uma das principais alavancas estratégicas para alcançar as metas e objetivos. Os questionamentos certos podem levar sua equipe para o próximo nível.
Um abraço e até a próxima,
Camila Carvalho
O que me mobiliza é o desejo de promover mudanças reais e significativas nas esferas empresariais: alinhamento e humanidade somados à resultados e consistência. Formada em jornalismo e eterna estudante curiosa de temas como liderança, design thinking, experiências de aprendizagem e MBTI®.