Em muitas empresas, a padronização e a organização poderiam servir como exemplo. Muitas delas, inclusive, são casos de sucesso pela maneira como mantêm seus processos, estabelecem sua estratégia e executam seu trabalho diariamente. Negócios de sucesso, como diriam, e que estão há anos inspirando o sonho empreendedor de muita gente.
Ao mesmo tempo, uma pesquisa realizada com mais de 400 CEO’s globais revelou que a maior parte dos líderes de grandes companhias sentem dificuldade, entre outras coisas, de garantir com excelência a execução de suas estratégias. Seja do ponto de vista dos objetivos, seja em relação à forma e processos.
Um dos pontos abordados como influenciador deste problema dentro destas grandes organizações, é a dificuldade de garantir uma comunicação eficaz, que “atinja” todos os níveis da empresa, fornecendo informação necessária para que as pessoas executem sua parte no todo. Segundo estes executivos, apesar do investimento em comunicação interna, parece que as pessoas simplesmente não “ouvem”.
E aqui mora um grande, mas sutil detalhe, que passa desapercebido em muitas destas empresas. Veja, mesmo garantindo eficiência na comunicação interna e administrativa, e essas empresas de fato são eficientes neste aspecto, elas não garantem eficácia no processo comunicacional. Trabalhei em uma multinacional, e me recordo dos inúmeros informativos, reuniões, revistas e até TVs internas que abordavam os mais variados temas, inclusive as estratégias e planos. Todavia, o problema era o mesmo, as pessoas não se engajavam e não executavam de acordo.
A questão aqui está relacionada ao fato de que antes de ser instrumental, a comunicação é humana e relacional. Não adianta garantir a informação sem munir de conhecimento e entendimento o interlocutor, e mais, não criar um ambiente de fato favorável à relação entre as pessoas que garantem a execução das estratégias. Estas, em sua maioria, vivem em ambientes mais hostis do que acolhedores. Em uma pequena metáfora, é como entregar um instrumento adequado nas mãos de um músico desencorajado, ou mesmo entregar uma partitura a um grupo de músicos que não se conhecem e esperar que virem uma orquestra.
É preciso compreender a magnitude do processo de comunicação. Não apenas o dos veículos e eventos internos, mas aquele das pessoas e suas necessidades. O engaje e o comprometimento têm origem nas escolhas dos indivíduos, ou seja, não é fruto de uma simples transferência de informações, mas da construção de um ambiente seguro e de um saber/ conhecer coletivo, voltado para o objetivo comum escolhido e que, sobretudo, importe àqueles que executarão o trabalho.
Obs.: Os dados e pesquisas citados neste texto estão na edição de março da Revista Harvard Business Review.
Anderson Siqueira