O trabalho e cenário atuais nas empresas exigem diversos tipos de respostas para desafios cada vez mais complexos. A cultura que valorizava os talentos individuais e seus atos heroicos tem dado lugar a uma vivência cada vez mais compartilhada e participativa. Uma das bases para essa mudança está na percepção crescente de que uma equipe tem a capacidade de dar respostas mais abrangentes e criativas. Entretanto, para os que entenderam esse movimento, surgem dúvidas sobre como criar equipes que de fato entreguem resultados coletivamente. E mais, como transformar grupos de profissionais talentosos em times de sucesso.
Mais do que apenas um grupo de pessoas, um time deve almejar uma consciência coletiva, um legado e um propósito importante. A palavra time tem origem no inglês antigo e vem do verbo teamen que tem relação com dar à luz, gerar, propagar e engendrar (dar existência a). Também está ligada a palavras como família, raça e linhagem. O sentido de conjunto veio mais tarde, com o surgimento de outras formas de ajuntamento. Entretanto, fica clara a relação de proximidade e cumplicidade.
Identificamos três etapas para a construção de verdadeiras “equipes-time”. Obviamente, que juntam-se a este caminho uma série de outras variáveis, queremos destacar o caminho de relacionamentos que rumam a cumplicidade de um time que deixa legados coletivos.
O primeiro passo é o conhecimento
Apesar de parecer óbvio, conhecer as pessoas que trabalham conosco não é uma prática comum. Nossa experiência mostra que apesar de trabalharem anos juntos, algumas equipes sequer sabem o nome ou a idade do filho de seu parceiro de trabalho. Os exemplos são muitos: sócios que não sabem os objetivos de vida um do outro, que não conhecem as melhores habilidades de seu parceiro e quiçá seus pontos fracos… Por que conhecer minha equipe? Por que revelar detalhes da minha vida?
A resposta para essas perguntas está no entendimento de que um grupo de pessoas se destaca por ter pessoas talentosas. Um time, porém, se destaca por SER talentoso. Tal qual as famílias de outrora, conhecidas por seu brasão e senso de união, é preciso estabelecer laços mais fortes do que currículos e burocracias trabalhistas. Pessoas que se conhecem deixam de usar palavras como “acho” e se aprofundam na obtenção de conhecimento sobre o outro. Equipes que se conhecem compartilham sonhos, se ajudam e praticam o mais nobre papel humano: servir.
Não há receita para isso. Não é preciso métodos complexos. Apenas o uso diário do respeito e da conversa. Saber como anda a saúde do seu colega de trabalho pode contribuir para aquela conversa difícil sobre os resultados. Entender os objetivos de vida das pessoas que trabalham conosco pode ser crucial para decidir os rumos do negócio. Conhecer é o primeiro passo para estabelecer o segundo grande degrau.
O segundo passo é a confiança
A palavra confiança remete a força, segurança e fé. Ao entendê-la mais a fundo, vemos que se trata de um sentimento baseado na “veracidade, integridade ou outras virtudes de alguém ou alguma coisa”. Isso significa que ela é gerada a partir de uma relação virtuosa e valorosa. Por isso, só é possível confiar quando há conhecimento sobre valores e virtudes de si e do outro.
Vemos diariamente pessoas baseando suas relações em preconceitos e desconfiança. Relações que produzem resultados insuficientes, intrigas, rancor, desmotivação e falta de comprometimento. Em resumo, mais morte do que vida… Já que, na premissa do medo, é preciso se defender do outro antes mesmo de conhecê-lo. Mas, quais os ganhos de construir um time de pessoas que confiam umas nas outras?
Times assim não gastam energia com confirmações desnecessárias, controles e medos excessivos. Por outro lado, investem tempo em auto desenvolver-se conjuntamente, dar e receber retornos a respeito dos comportamentos e caminhos escolhidos de maneira generosa e livre, e ampliar a capacidade de produzir os melhores resultados, com excelência e verdade.
É importante frisar, porém, que a confiança é resultado de um processo longo e profundo de auto conhecimento e conhecimento do outro. É preciso ter consciência de seus valores e daquilo que acredita para confiar. A beleza de um time está em promover conhecimento e confiança de maneira bilateral, ou seja, não se trata de confiar cegamente, mas de construir uma relação genuína e auto nutrida.
O terceiro passo é a cumplicidade
Palavra pouco usada com boas intenções, a cumplicidade não é originalmente o adjetivo de um parceiro de crime. Ela vem do latim complicare, “dobrar junto”, formado por COM-, “junto”, mais PLICARE, “dobrar”. Ou seja, coisas que são dobradas juntas se mantêm próximas. A cumplicidade é alcançada no tempo, nos desafios e até mesmo na dor. A dobra pode ser entendida como o amadurecimento de uma relação de confiança, sujeita aos problemas diários do cotidiano de uma equipe.
Os resultados de uma equipe assim não são vistos isoladamente, mas como um todo. Os problemas são tratados de maneira honesta e franca (existem problemas!). A inovação se torna natural e os resultados consequência do foco em ser cada vez mais time. A cumplicidade amplia a consciência e o aprendizado coletivos e agrega ainda mais valor ao trabalho.
Antigamente, essa palavra era usada para designar parceiros confederados. Ou seja, unidos por um campeonato, federação ou bandeira. Natural para times que perseguem unidos a mesma vitória e o mesmo legado. É resultado de um processo profundo de conhecer a si e ao outro, de confiar em si e no outro e, por último, de ser apenas Um time, cúmplice e vivo.
Anderson Siqueira