O termo Inteligência Emocional foi popularizado por Daniel Goleman em meados de 95 e de lá para cá, provocou uma revolução nos ambientes de trabalho. De repente, éramos convidados a trazer nossas emoções para o escritório – uma grande surpresa para as pessoas que vieram antes de nós – que aprenderam um caminho muito diferente. Além disso, fomos convidados a olhar para nós mesmos de uma maneira mais íntima, já que os estudos dele trouxeram um dado surpreendente, ao menos para o mundo dos negócios: o QI (quociente intelectual) corresponderia a apenas 20% das aptidões necessárias para se tornar uma pessoa bem-sucedida.
Hoje, buscar IE já não pode ser considerado diferencial e, naturalmente, a liderança não escapou desta enxurrada de mudanças. Para além do desafio de entender a si mesmo como indivíduo, o líder tem a responsabilidade de apoiar seus liderados em suas próprias jornadas, com o objetivo de que juntos e como um time, possam superar os desafios em busca dos melhores resultados. Assim, é importante que um líder que intenta fazer diferença investigue e examine os conceitos de Goleman e se beneficie deles.
A IE possui quatro pilares principais: autoconhecimento, autogestão, empatia e gestão de relacionamentos. O primeiro, está relacionado a conhecer seus gatilhos, reações e crenças e assim gerenciá-los. Quando isso acontece, podemos orientar o que fazemos para os resultados que desejamos e controlar melhor nossas respostas diante dos acontecimentos, que seria a autogestão, o segundo pilar. O terceiro elemento da IE está conectado a nossa habilidade de perceber o outro e vê-lo com mais clareza. Por fim, quando somamos estas três características, estamos prontos para gerenciar nossas relações, superando diferenças na busca por influenciar e ser positivamente influenciados.
Não é difícil olhar para cada um destes pilares e pensar nos benefícios que a liderança pode receber ao incorporá-los em seu dia a dia. Processos comuns como a divisão de tarefas, o desenvolvimento de competências, a condução de reuniões e feedbacks, a criação e o desenvolvimento de novas ideias e projetos ganham novas cores ao serem vistos deste prisma. E os times ganham novas possibilidades de entrega, novos níveis de confiança e abertura para lidar com o risco natural de um tempo cheio de incerteza e mudanças.
Um líder que conhece a si mesmo aprende a se comunicar melhor, e ao longo dos diversos desafios, experimenta mais clareza e controle para navegar em tempos de crise, sabendo equilibrar objetivos e flexibilidade. Portanto, acelera seu próprio processo de crescimento e influencia o mesmo para aqueles que estão a sua volta. Ainda assim, não busca alimentar a figura do líder herói, que tem sempre todas as respostas e nunca hesita. Ele conhece seus pontos fracos e usufrui da colaboração para construir caminhos sólidos.
E, embora todas estas ideias e práticas possam parecer muito abstratas, os resultados são concretos. Em 2020, um levantamento do grupo de recrutamento PageGroup mostrou que a inteligência emocional era uma das habilidades mais desejadas no Brasil (42,9%) e na América Latina (33,8%). Um outro estudo realizado pela Univerdade de Harvard demonstrou que profissionais com um alto quociente emocional têm menores níveis de stress no ambiente de trabalho.
Um outro estudo global realizado pela Harvard Business Review Analytic Services (HBR-AS), e apresentado pelo Four Seasons Hotels and Resorts apresenta amplas evidências de que empresas que valorizam a IE reportam níveis mais altos de produtividade e de engajamento entre seus funcionários. Enquanto que empresas sem EI estão se tornando um grande risco à medida que o ambiente de negócios muda.
Excelentes habilidades interpessoais na liderança são essenciais para as organizações que pretendem continuar relevantes em um mundo como o nosso. Hoje, decisões precisam ser tomadas rapidamente, pessoas precisam colaborar com times extremamente diversos e até mesmo tomar decisões sozinhas em situações de grande complexidade. Para isso, é fundamental dominar habilidades interpessoais que, muitas vezes, são minimizadas pelas empresas como habilidades pessoais “agradáveis de ter”.
No estudo da HBR é possível notar esse “esquecimento” ao notar que apenas 10% das empresas que medem a satisfação de seus colaboradores também medem elementos relacionados à inteligência emocional. Pior, apenas 18% dos entrevistados concordam que suas empresas conseguiram incluir o desenvolvimento da inteligência emocional na cultura da empresa.
Por outro lado, as empresas que investiram na IE colhem seus benefícios. Segundo a pesquisa, 37% das organizações emocionalmente inteligentes alcançam altos índices de excelência na experiência do cliente, contra 8% das outras empresas. No caso de fidelidade do cliente o resultado fica em 40% vs. 12% para as com baixo quociente emocional e 31% vs. 8% no caso da incidência de clientes promotores.
O fato é que quando se cultiva uma cultura que aceita o risco e se desenvolvem as habilidades interpessoais necessárias para lidar com ele, aumenta-se o engajamento e a energia dedicada das pessoas, levando a empresa a produzir melhores produtos, serviços e experiências para os clientes. Ou seja, nas empresas do futuro, atuantes em um mercado cada vez mais tecnológico, conectado e veloz, a diferenciação virá pela capacidade de destacar as melhores habilidades humanas e de gerenciar as emoções em um ambiente de alto risco e incerteza.
Camila Carvalho é jornalista, especializada em gestão, cultura organizacional e liderança 4.0 e entusiasta da educação corporativa.