Quais os caminhos para lidar com a pobreza?
Como tornar as cidades mais inteligentes e conscientes?
Como evitar o visível colapso ambiental?
Não existem respostas simples para perguntas como estas. Nem tão pouco causas fundamentadas em apenas uma visão ou crença. Tratam-se de dilemas complexos e desafiadores em todos os sentidos.
A chave para compreender o conceito da complexidade se alicerça no fato de que cada pessoa percebe a realidade a partir de sua construção biológica individual. Isso significa que cada um vê um mundo diferente a partir da configuração interna do seu sistema vivo, que se transforma constantemente ao interagir com o meio.
Partindo, então, da premissa de que somos mundos co-vivendo, podemos entender por que a quantidade de informações e conhecimento acumulado, gerado e publicado, torna o desafio de lidar com a complexidade um dilema ainda mais instigante e grandioso.
Desafios como os citados só podem ser entendidos se considerarmos não apenas compreender, mas co-compreender os sistemas e subsistemas envolvidos e, a partir daí, buscar soluções e caminhos de forma completa, coletiva, sistêmica e sustentável.
Empatia: onde os mundos co-vivem
Em 2013, um programa de TV holandês se propôs a fazer um teste, no mínimo, inusitado. Os apresentadores do Guinea Pigs foram submetidos a sentir na pele por duas horas as dores e contrações que uma mulher sente ao dar à luz. Seria isto o que chamamos de empatia?
Muito falada, ela está na mesma página da inovação, comunicação e excelência como palavras que muito se diz sobre, mas pouco se sabe ao certo. Não se trata de um exercício fácil nem glamouroso, porém, nobre, como o servir e o retribuir. Conhecida como “colocar-se no lugar do outro”, e mercantilizada como “foco no cliente” a empatia perde força quando não é acompanhada pelo respeito e pelo desejo legítimo de conectar-se mentalmente com o outro. Para isso, não basta ver e ouvir, é preciso sentir como o outro sentiria.
O exercício da empatia só será possível quando se abrir mão, por um momento, da sua construção e visão de mundo e – após tal descoberta – permitir-se olhar, julgar e sentir a partir da construção biológica do outro. Mesmo os apresentadores do Guinea Pigs precisam perceber que tal vivência física é falha se não permitirem que a dor, as contrações e todo o contexto vivido sejam percebidos por uma mente orientada pela construção biológica de quem a vive de fato. Um movimento de construção mútua, entre físico e metafísico.
E onde entra o Design Thinking?
A complexidade da qual falamos não está apenas no mundo coletivo em que vivemos, mas na maneira como olhamos as conexões relacionais entre os mundos construídos individualmente. Em uma empresa, por exemplo, convivemos diariamente com assuntos tão complexos quanto a própria ideia de complexidade.
Através do design thinking pode-se ajustar o olhar e construir uma orientação mental para a empreitada de abordar a complexidade partindo-se de princípios básicos como a empatia, a colaboração e a experimentação.
Acredito que a empatia, se bem compreendida, pode ser, sim!, um belo começo de generosa descoberta e transformação na maneira como resolvemos diariamente nossos dilemas, do mais simples ao mais complexo e desafiador. Por que, se produzir complexidade é nossa vocação, compreende-la é o nosso legado.
Anderson Siqueira
Sócio-fundador da Consense Educação para as relações