Um texto para empreendedores e líderes que temem ouvir falar de improdutividade na empresa
É mais um dia comum no trabalho. Você está caminhando pelos corredores e, quando se dá conta do ambiente ao redor, vê o seguinte caso: João está assistindo um vídeo no YouTube, rindo. Maria está sentada na mesa ao lado, abrindo um e-mail que acabou de receber. O que você pensaria? O que diria? Faria alguma intervenção?
Atire a primeira pedra quem nunca foi improdutivo no trabalho alguma vez. Sempre existe o dia em que não estamos em nossa melhor forma ou que um problema, interno ou externo, tira a nossa capacidade de alta performance. Porém, também peço que se apresente o empreendedor ou líder que nunca se sentiu inquieto – ou com vontade de arrancar os cabelos – diante da possibilidade, ou realidade, de ter colaboradores improdutivos.
O caso é real, comum e merece atenção. Um estudo apresentado pela ABPMP Brasil (Associação de profissionais de gerenciamento de processos de negócios) produzido pela Technology CEO Council revelou que, só no setor privado dos Estados Unidos, a ineficiência gera prejuízos de US$ 480 bilhões. Número, sem dúvida, expressivo.
E essa realidade não está distante do Brasil, obviamente. Em nossos clientes de consultoria, frequentemente fazemos a seguinte pergunta às pessoas: quantas horas por dia você se sente improdutivo em seu trabalho? A média de respostas vai de 1 a 2 horas. Em um grupo de 20 pessoas a soma pode chegar a 10.080 em um ano, 420 dias inteiros.
O fato é que a improdutividade não se resume a passeadas em e-mails ou redes sociais. Inclusive, vale ressaltar, que a Maria do exemplo não estava, necessariamente, sendo produtiva pelo fato de estar lendo um e-mail do trabalho. Não se pode analisar tais situações de forma isolada, mas é necessário refletir sobre toda a rotina da empresa, de forma sistêmica e profunda.
A improdutividade no trabalho é um sintoma,
um indício de que algo mais está
acontecendo. E não apenas com um
colaborador isolado, mas com a companhia.
Vejamos: é comprovado que o uso desregrado do e-mail pode fazer com que percamos até 3 horas por dia no trabalho. Se Maria tem o costume de parar o que está fazendo cada vez que um novo e-mail chega, enquanto João checa suas redes sociais entre uma tarefa e outra, no final do dia, a chance de ela não ter cumprido sua agenda é maior. A questão não está na tarefa em si, mas em quanto tempo é gasto nela.
Minha análise é de uma situação corriqueira para evidenciar muita da ingenuidade empresarial existente por aí. Improdutividade no trabalho é mais do que passar 10 minutos a mais no café ou ficar tempo demais mexendo na internet. Ela é um sintoma, um indício de que algo mais está acontecendo. E não apenas com um colaborador isolado, mas com a companhia.
Existe falta de tempo ou falta de planejamento? Falta um sistema de gerenciamento e uma comunicação mais alinhada entre a equipe? Há excesso de trabalho ou pouca delegação de tarefas e esforços conjuntos? As prioridades estão devidamente alinhadas? O processo de trabalho precisa de ajustes? Como um organismo, uma empresa também evidencia o que está errado por meio de sintomas. A improdutividade é apenas um deles.
Uma passeada nos corredores de sua empresa pode sim evidenciar diversos problemas como estes. Porém, apenas o acompanhamento de uma liderança presente e consciente pode determinar se existe – e quais as verdadeiras causas – da improdutividade no trabalho.
Anderson Siqueira
Idealizador e educador na Consense Educação para as relações