Desde o início da pandemia vivemos uma grande montanha russa de emoções. Num primeiro momento, com medo pela falta de entendimento sobre a doença, depois, com as incertezas e as consequências para o mercado, empregos e a vida como um todo. Administrar tudo isso, continuar focado e produtivo e ainda cuidar da sua equipe? Complicado, certo?
Com a questão sendo escancarada em nosso dia-a-dia, fomos levados à busca de serviços como plantões psicológicos e terapias em grupos dentro das empresas. Porém, para muitos de nós, a falta de orçamento impede a contratação de novos fornecedores. E, atrás de uma saída, a busca por informações sobre como resolver o “problema da saúde mental” durante e após a Covid-19, aumentou muito.
É possível olhar de forma positiva para tudo isso, pois já era hora desse tema receber a atenção que merece. Vale lembrar, porém, que independentemente da solução encontrada (contratando um terceiro, ou resolvendo internamente) não se pode ignorar o fato de que o líder tem grande influência e poder na geração de mais ou menos saúde mental em seu time.
Parece pesado? Bom, é claro que não estamos falando aqui que você é responsável direto por crises ou pela falta de resiliência emocional de sua equipe. Porém, saiba que, como líder, você tem sim o poder de afetar fortemente o estado emocional do seu time. No livro “Liderança”, Daniel Goleman, guru da inteligência emocional, revela como gestores ressoam seus estados emocionais em suas equipes, influenciando os humores de todos ao seu redor, positiva ou negativamente. Além disso, nosso teste de Saúde Mental realizado durante os três meses de isolamento mostrou que a força gerencial das empresas (Gerentes, Coordenadores, Supervisores) é a mais ansiosa, já a faixa operacional (Analistas, Assistentes, Estagiários) é a com maior sofrimento mental, quando existe a necessidade de busca de apoio especializado.
Visto isso, imagine um time de gestores ansiosos tentando encontrar soluções em um cenário sem muita clareza. Ansiosos, acabam “apertando” seus times que, com medo da doença, de ser desligado, de não se adaptar ao novo modelo de trabalho e do chefe, ressoam essa ansiedade por todo o negócio. Acho que já deu pra entender que o buraco da saúde mental é mais embaixo, certo?
Mas afinal o que é possível o líder fazer pela saúde mental da equipe, mesmo não sendo psicólogo?
Grande parte dos problemas de gestão está atrelado ao tipo de relação que foi nutrida por seus gestores e liderados. Essas relações se estabelecem através dos contatos diários destes com seus times, e que podem ser de menor ou maior qualidade.
Por exemplo, quando um gestor marca uma reunião de feedback (o que é raro, acreditem) e falta subsequentemente em todas as tentativas de fazer a conversa acontecer. A situação dá a entender a importância daquela conversa para o líder, ou seja, pouquíssima. Esse tipo de questão afeta então a moral, a confiança e o engajamento do liderado, e isto é apenas um pequeno exemplo.
Por isso veja a seguir algumas dicas para nutrir uma relação mais saudável com seu time. E para te apoiar ainda mais neste tema, disponibilizamos um “kit de orientações” gratuito sobre como preparar encontros significativos de acolhimento com a equipe ao final deste artigo.
Comunicação constante e transparente
Procure criar rituais, ou seja, reuniões, bate papos, aquele café da manhã semanal e tantos outros encontros com os liderados. Ainda mais importante que criar estes momentos é fazê-los acontecer, sem faltas ou desculpas injustificadas, com transparência e verdade.
A regra aqui é nutrir uma relação de abertura e de confiança, um cenário de segurança psicológica. Cuide para que nestes espaços de conversa se pratique a escuta sem preconceitos, com liberdade para errar, dar opinião e discutir o trabalho e soluções, evitando focar em culpados, erros e “no que deveria ser feito”. Estas falas tendem a gerar um senso de inadequação e desmotivam.
Um cenário de maior proximidade com o time faz com que o líder consiga saber mais sobre todos e consequentemente distinguir gatilhos emocionais, mudanças de comportamento e produtividade enquanto acontecem, não depois que virar um problema mais sério (como burnout, ansiedade e depressão), e dá tempo para essas questões serem faladas na reunião individual.
Segurança emocional também é saber o que se espera do trabalho
Imagina que você entra em uma empresa nova com a função de fazer contas a receber. Sem explicações, começam a te passar outras responsabilidades, não só de seu “líder oficial”, como também de outras pessoas do departamento, e ainda por cima, sem dizer o porquê precisa fazer tudo aquilo. Imaginou? Pois bem, este também é um cenário inseguro emocionalmente.
Um ambiente onde não há clareza de papéis, responsabilidades e expectativa de qualidade sobre o trabalho a ser entregue, gera muitas dúvidas. Pesquisas realizadas pela Simon Fraser University, no Canadá, apontam que a liderança eficaz aumenta o moral, a resiliência e a confiança dos funcionários e diminui a frustração e o conflito dos funcionários.
Uma boa liderança leva a 40% mais chances de os indivíduos estarem na categoria mais alta de bem-estar no trabalho, uma redução de 27% nas licenças por doença e uma redução de 46% nas aposentadorias antecipadas com pensões por invalidez. Ou seja, sendo eficaz você melhora a saúde na firma e, de quebra, economiza para aquela festa de final de ano!
Para isso se concretizar procure dar clareza do papel, responsabilidades, objetivos e expectativas em relação ao trabalho. Se necessário esclarecer algo, use aquelas conversas constantes que citamos no item anterior e aproveite mais recursos abaixo.
Como posso me aproximar do meu time e discutir saúde mental?
Mesmo tomando todos os cuidados, é importante lembrar que vivemos uma situação sem precedentes. Por este motivo, pode ser importante criar espaços exclusivos para cuidar da saúde mental das pessoas. Para apoiar você, disponibilizamos nosso kit de orientações sobre como preparar um encontro de acolhimento com sua equipe.
Nesse material, incluímos um roteiro de reunião, com dicas de como conduzir um papo aberto sobre as descobertas, aprendizados e desafios do período de pandemia e isolamento. Uma ferramenta sensível e empática para você cuidar do seu time.
Caso alguma questão emocional aflore nas conversas com os liderados e surjam dúvidas sobre o que significa, você pode compartilhar nosso Teste de saúde mental com o time ou com a pessoa em questão. Quem responder terá resultados claros e um canal para falar com nossos psicólogos. Lembre-se de não exigir um resultado se a pessoa não quiser compartilhar, este é um meio de auxílio, não uma obrigatoriedade.
No mais, estamos aqui. Caso queira conversar mais sobre como criar programas ou implantar iniciativas realmente sistêmicas de cultivo de saúde mental em sua empresa, fale com a gente.
E fique bem!
Ricardo Honda é psicólogo e especialista em desenvolvimento de pessoas e de organizações. Atua prestando consultoria de gestão e liderança para colaboradores e líderes corporativos. Com mais de 10 anos de atuação em RH acumula ainda forte experiência em temas como saúde mental e segurança psicológica.