A escolha da profissão se dá, geralmente, aos 17 anos, quando saímos do colégio e temos que decidir que rumo seguir. Não tem como achar que isso será definitivo. Quem que no início da vida adulta, sem ter experimentado muito da vida, consegue saber o que vai ser quando crescer? Como planejar carreira nessa fase?
Algumas gerações atrás, isso era ainda mais cruel, porque além de escolher cedo, trocar de carreira depois era considerado um “crime”. A referência de sucesso era a estabilidade, anos na mesma empresa era sinônimo de que a escolha tinha sido assertiva.
Hoje em dia, as coisas mudaram um pouco, os jovens (recorte de uma classe privilegiada que tem opção de escolha) têm pensado mais sobre que rumo tomar e estão mais conectados com aquilo que os dá prazer e não só com o dinheiro. Fazem uma jornada de autoconhecimento e chegam nas universidades com um pouco mais de informação sobre si e o mercado. A carreira já é vista como um projeto de muitos caminhos em uma linha mais circular do que reta. Trabalhar muitos anos numa única empresa já não é mais visto com bons olhos. Muitas pessoas estão mudando de rota mais de uma vez e tendo inúmeros formatos de trabalho.
Diria então que os inícios e meios foram sendo transformados. Acontece que, pelo que tenho observado, tem algo que ainda permanece igual = os finais de carreira. Ainda é difícil encontrar saídas bem pensadas, trabalhadas e costuradas com todos os envolvidos. Dentro de “finais” podemos pensar diversas possibilidades, como processo sucessório, demissão, encerramento de uma tipo de carreira ou até mesmo aposentadoria.
Os desafios do pós-carreira
Me parece que, independente do tipo, encerrar ciclos ainda é difícil para a maioria das pessoas. Talvez ainda mais do que começar. Como que eu sei que está na hora de sair? O que eu faço daqui pra frente? Como eu lido com o desconhecido que virá? Como eu gerencio o luto do que eu deixei?
O fim de um ciclo não é previsto em manual ou estabelecido por tempo determinado. Ele acontece de forma individual e particular para cada pessoa. É preciso estar atento aos seus motivadores e ter muita clareza do que se espera do futuro para que possamos fazer escolhas e não sermos atropelados pelas escolhas dos outros.
Redefinindo ciclos
Acho pretensioso pensar que isso acontece naturalmente, aos embalos de “deixe a vida me levar”. Precisamos nos apropriar da nossa história, revisitar e atualizar nossos conceitos de sucesso e pensar sobre a vida que queremos ter. E isso requer um investimento emocional de quem sai e de quem fica. Cada pessoa em uma organização impacta no todo e cuidarmos das saídas é também cuidar de como esta empresa segue mesmo com novas peças no jogo.
Como estão esses processos aí? Está vivenciando algum encerramento de ciclo, seu ou de alguém do time? Pensar que isso pode ser gentil e gradativo é uma boa forma de começar. Gosto da analogia com a relação médico-paciente: ninguém gosta de receber uma notícia ruim sem ter tempo pra elaborar. Pensar em planos a, b e c fazem parte do processo de aceitação de um mundo novo. Pense nisso e volte aqui pra nos contar como isso reverberou.
Manoela é mãe, psicóloga, coach executiva, especialista em carreira e estudiosa da psicanálise. Faz parte do Ecossistema de profissionais da Consense.