Em nossos estudos sobre inovação e, principalmente, sobre o ambiente que lhe é natural, percebemos que dedicar atenção ao cultivo de uma cultura que faça emergir processos inovadores é um caminho mais sustentável do que esforçar-se nos esporádicos projetos de inovação, em sua maioria focados em tecnologia e produto apenas. Já falamos sobre o Risco (aqui) e Humanidade (aqui) como pilares desta cultura em diversos outros artigos. Vale refletir ainda sobre um elemento bastante desafiador para o padrão cultural da maioria das empresas atualmente: a Conexão.
Diante de um desafio de resultado, de um problema a ser resolvido com o cliente ou equipe, ou simplesmente, de uma reflexão sobre os rumos da empresa e seus impactos no mercado, qual é o tipo mais comum de reação? Vemos, diariamente, empresários focados em resolver questões pontualmente e isoladamente. Tornam-se solucionadores vorazes de problemas e até vitoriosos em suas conquistas pontuais. Um engano pouco visível para o elemento básico da Conexão: a visão sistêmica. Para compreendê-la é preciso partir do princípio de que tudo está conectado em sistemas complexos, como uma empresa. Ao perceber nossa organização como integrante de um ecossistema podemos fazer análises importantes na criação de uma cultura vibrante de inovação.
Não estamos sozinhos
Um ecossistema é caracterizado pela presença real e perceptível de diversos agentes. Não se trata de um presépio onde as peças inanimadas compõem um cenário. O cliente realmente existe, tem anseios, desejos, propósitos e, claro, questões mal resolvidas. O fornecedor, em um ecossistema é real e humano, também tem objetivos concretos. E isso também se aplica aos colaboradores, vizinhança, acionistas e familiares de todos estes. Imagine que cada ação de sua instituição afeta diretamente e/ ou indiretamente todos eles, e que o contrário também é verdadeiro, pois em um ecossistema, todos são protagonistas.
Não estamos no vácuo
Um ecossistema considera ainda o espaço-tempo no qual estes agentes interagem. Em que ano estamos? O que está rolando em nosso mundo/ país/ estado/ bairro? Quais as implicações de decisões e movimentos de grande escala em nossos ecossistemas? Qual o futuro do nosso mercado? Que tipo de tecnologia pode substituir ou complementar nossa atividade econômica? Qual o impacto de nossas ações no meio ambiente? Todos os agentes fazem parte de um processo cultural, constroem opiniões sobre todos os contextos possíveis e tem percepções peculiares sobre serviços e produtos.
A Conexão como pilar da inovação
Pensar assim reforça a ideia da Conexão como pilar na construção de um ambiente de inovação. A percepção sistêmica de “onde”, “porquê” e “para onde” vamos é crucial para ampliar a capacidade crítica dos agentes destes ecossistemas. Além disso, elementos como empatia (“de quem” e “para quem”), compaixão e colaboração se tornam pujantes, já que os princípios se estabelecem em torno da preservação do todo e não na competição pela parte.
Uma cultura de inovação se estabelece em ambientes férteis, com pessoas dispostas a compreender o seu contexto de vida e, assim, partir para o entendimento dos contextos de todos os envolvidos, conectando-os. Um conhecer verdadeiro e profundo sobre todas as pessoas envolvidas. Trata-se de sair da caverna na qual muitas empresas estão, escondidas e voltadas para si próprias. A inovação surge na Conexão com o mundo e com o outro, estabelece rupturas não apenas mercadológicas, mas históricas e relacionais.
Anderson Siqueira