Recentemente, aqui no Blog, escrevi sobre como o Burnout diz mais sobre as empresas do que sobre as pessoas. Esse primeiro artigo, dentre outras coisas, explica como o esgotamento deve ser entendido como um fenômeno ocupacional, mais do que médico. Se quiser iniciar a sua leitura por ele, clique aqui. Se você já leu ou já é familiarizado com o tema, neste texto, quero abordar sobre quatro iniciativas organizacionais que podem cultivar um ambiente que combata o burnout e outros transtornos mentais.
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1 – Gerencie a satisfação e a insatisfação das pessoas
Primeiro, é preciso entender que satisfação e insatisfação não são conceitos lineares e proporcionalmente ligados. Isto significa que ações de melhoria direcionadas à satisfação, por exemplo, não promovem obrigatoriamente a diminuição da insatisfação – da mesma forma, a ausência de insatisfações declaradas não presume satisfação. Ou seja, é preciso atuar nas duas pontas de forma consistente.
Para atuar com eficiência na satisfação é preciso estar atento à criação de um ambiente de trabalho desafiador, ao reconhecimento das realizações das pessoas, ao senso geral de responsabilidade, à oferta de algo significativo para o dia a dia, ao grau de envolvimento na tomada de decisão, e ao senso de importância para a organização.
Na outra ponta, para evitar a insatisfação, é importante considerarmos o salário, as condições e relações de trabalho, a política e administração da empresa, a liderança, o status e a segurança como fatores determinantes. Ou seja, são itens que os funcionários não reconhecerão quando estiverem resolvidos, mas sua má gestão pode causar uma grande insatisfação.
2 – Faça perguntas sobre o burnout e ouça as respostas adequadamente
Como líderes, é comum termos a crença de que precisamos saber todas as respostas e ter todos os caminhos definidos. Entretanto, ao entender o esgotamento crônico como um fenômeno organizacional, abrimos espaço para que sua prevenção seja uma tarefa compartilhada.
Para começar, é possível conversar com seu time sobre os pequenos problemas diários que atrapalham o bom trabalho de acontecer. Você pode ainda fazer um diagnóstico, mesmo que anônimo, sobre as condições de trabalho, distribuição das atividades ou sobre a disponibilidade de recursos e qualidade das relações. E depois de reunir dados como estes, pode discutir abertamente com sua equipe sobre quais itens priorizar. Considere a lista dos cinco fatores geradores de esgotamento revelados pelo Instituto Gallup para isso.
Um outro movimento importante é fazer a si mesmo as perguntas difíceis. Pergunte-se como líder, o que pode estar prejudicando a saúde do seu time? Por que nosso ambiente de trabalho não tem condições de evoluir? Como posso garantir que minhas pessoas trabalhem aqui todos os dias? Seu objetivo será conhecer o que torna o trabalho melhor. E melhor, neste caso, não significa menos produtivo ou sem foco em resultados. É o contrário disso.
3 – Desintoxique as estruturas de gestão
Parece historinha, mas muitos líderes enfrentam problemas de desempenho e resultados originados nas mesmas fontes geradoras de burnout. A conta é simples, o trabalho que não gera bons resultados também não gera saúde. Se não é bom para as pessoas, não será bom para o balanço também.
Falta de clareza, comunicação inadequada e gestão ineficiente do volume de trabalho não geram apenas esgotamento nas pessoas, mas impedem qualquer estratégia de andar pra frente.
Desta forma, ao criar rotinas que ampliam a clareza das pessoas sobre seus papeis e responsabilidades; gerenciar de maneira eficaz a carga de trabalho; criar sistemas de conversa e decisão integrados; e cuidar do negócio e seus resultados, você também estará cuidando da saúde das pessoas.
O período de pandemia nos mostrou a importância de construir uma organização responsiva e adaptável, capaz de entender o que está rolando no mundo exterior e ajustar-se de maneira ágil aos sinais de mudança. Isso implica mudanças estruturais na forma como papeis são desenhados e fluxos informacionais são arquitetados.
Por isso, uma espécie de desintoxicação é necessária. Um exercício que busque remover o vício do controle, do resultado a qualquer custo e da competição excessiva. Mas que também resolva a ausência de significado, a tirania da participação malfeita e o medo como instrumento de gestão.
4 – Inclua a saúde e segurança psicológicas na estratégia do negócio
Apesar das estratégias anteriores serem muito efetivas e ampliarem a perspectiva da prevenção ao burnout, é preciso considerar novamente o seu caráter sistêmico e complexo. Além disso, deve-se lembrar que existem outros transtornos psicológicos e questões de saúde presentes em nosso tempo. Isso torna a saúde das pessoas um fator decisivo para o sucesso, sustentabilidade e longevidade dos negócios.
Por este motivo, é preciso gerenciar a saúde e a segurança psicológica das pessoas de maneira estratégica. E isso é muito mais do que fornecer ótimos benefícios, construir prédios com tobogã ou fornecer planos de academia. É fundamental que cada elemento da sua companhia promova saúde, lembre saúde e garanta saúde.
Ao se debruçar sobre os fatores de esgotamento revelados pelo Instituto Gallup, é possível perceber que a maior parte deles se sustenta na ausência de culturas de negócio humana e economicamente equilibradas. Nota-se ainda que definições como o propósito e os valores, ou estruturas como o organograma e os processos, muitas vezes, mais atrapalham do que apoiam o trabalho das pessoas.
Para mudar este cenário, comece por entender profundamente quais elementos de sua cultura promovem ou não um estado de saúde e segurança psicológica. Investigue se existe conflito ou incoerência entre o seu discurso e seus comandos diários relacionados ao trabalho. Analise as estruturas de governança e a relação com atores e partes interessadas, como clientes e apoiadores. Compreenda o ciclo de vida de seus funcionários e garanta elementos que assegurem o cuidado com a saúde deles nesta jornada.
Desta forma, considerando o ciclo de vida dos funcionários, os processos de trabalho, a cultura e a estratégia de negócio, sua empresa produzirá mais saúde do que doença. Colaboradores estarão mais envolvidos, com melhor desempenho e maior probabilidade de permanecerem no trabalho por mais tempo. Como resultado, sua organização terá menor rotatividade e melhores resultados comerciais.
O burnout não é inevitável
Você pode prevenir e reverter o esgotamento ao alterar a estrutura nociva na qual opera o trabalho e a gestão das pessoas. É claro que o mundo que vivemos e as situações nas quais o país e o mundo se encontram serão sempre forças contrárias à manutenção da saúde das pessoas, mas sua empresa pode ser um oásis neste deserto. Uma questão de escolha, mas também uma visão de resultado muito eficiente.
Não abordar as verdadeiras causas do burnout será, em contrapartida, a receita infalível para um ambiente de trabalho tóxico e de baixo desempenho. Um ciclo que afeta não somente a saúde das pessoas, mas a tomada de decisão, o atendimento ao cliente, a qualidade e a inovação. Para reverter tudo isso é preciso agir, agora, criando um novo jeito trabalhar. E lembre-se sempre: o burnout é mais sobre sua empresa, do que sobre suas pessoas.
Anderson Siqueira é CEO e fundador da Consense educação para as relações, especialista em psicologia organizacional e governança corporativa.
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