“Uma convergência do que há de mais moderno em tecnologia, cinema, música, educação e cultura”. Talvez os mais antenados com o mercado de inovação já saibam qual é o assunto que quero puxar nesta edição. Na semana passada, a cidade americana de Austin, no Texas, ficou repleta de gente do mundo todo para acompanhar a conferência da South by Southwest 2023 [SXSW]. Teve start-up brasileira ganhando prêmio, Evidências tocando no alto falante e muitas outras coisas bonitas de ver.
E em meio a toda essa movimentação, o Future Today Institute aproveitou o embalo para lançar seu relatório anual de tendências. O principal objetivo deste documento é apresentar as trends e cenários mais importantes do ano. Ou seja, as coisas que todos nós, independente da posição que ocupamos no mercado de trabalho, precisamos ficar de olho. E já que não estive na conferência presencialmente para bisbilhotar por mim mesma, tirei um tempo para ler o relatório.
Sou capturada logo de cara. Um “Este ano requer foco”, escrito em letras garrafais como título do primeiro texto que aparecia no PDF. A autoria pertencia a nada mais, nada menos do que a fundadora e CEO do Instituto, Amy Webb, conhecida por ser uma das vozes mais influentes da atualidade sobre o tema futuro. Usando uma série de curiosas metáforas espaciais, ela apresenta uma introdução fundamental para ajustar a percepção do leitor antes de mergulhar nos dados. Entre as muitas coisas que comenta ali, uma me chamou a atenção de forma intensa:
“É crucial focar quando novos sinais estão se formando, pois alguns podem ser duradouros e se desenvolver em tendências impactantes, enquanto outros podem se esgotar e desaparecer. Em um mundo cada vez mais complexo e acelerado, líderes que se concentram nas tendências que importam, e se adaptam às circunstâncias em mudança, tomam melhores decisões e veem resultados aprimorados.
Amy Webb
A frase em negrito me atingiu em cheio, abrindo o processo de conversa que trago para esta plataforma hoje. (É assim que gosto de ver os textos que produzo aqui.) Não é novidade para ninguém que curadoria é a competência da década. Em um mundo onde cada vez mais informação é produzida por segundo, saber filtrar, escolher e priorizar se tornou a chave essencial para conseguir sobreviver (em alguns casos, até em âmbito pessoal). É impossível conhecer tudo, absorver tudo, relembrar tudo, portanto é exigido de nós que, como profissionais e líderes do futuro, saibamos determinar e comunicar de forma cada vez mais clara, o que de fato importa.
Naturalmente, não existe uma receita de bolo neste assunto. Cada cenário será determinante para poder apontar o que é de fato relevante ou não. E, longe de mim julgar o líder que percebe as tantas coisas que precisam ser diferentes e melhoradas ou que busca novos conhecimentos para agregar às rotinas, mas a verdade é que nem tudo funciona para todos os tipos de negócios. Muito se fala sobre a necessidade de ser adaptável, como pessoas e como empresas, mas temos falado pouco sobre a necessidade de analisar se todas as adaptações são necessárias ou até adequadas para o contexto onde estamos alocados.
Nem sempre a fórmula de sucesso do concorrente, a sugestão ipsis litteris do guru do mercado ou o canal de comunicação que está na moda trarão para você os resultados que trouxeram para outros. Nem sempre o caminho mais trilhado é o caminho que se enquadrará no que você busca como sucesso e nem sempre só buscar o oceano azul é a resposta. O bom líder precisa desenvolver a habilidade de entender qual adaptação é benéfica para seu time e para o negócio.
Ou talvez nem seja este o seu cenário, já que você mal tem tempo de olhar para fora e ver o que está acontecendo no mercado ou em seu campo específico de atuação. Mas, acredite, isso também acontece “dentro de casa”. Quantas vezes, como líder, você já foi apanhado na armadilha das múltiplas priorizações? “Precisamos organizar os processos, treinar as pessoas, aumentar as vendas, humanizar as relações, profissionalizar os sistemas, aumentar a credibilidade no mercado, ser inovadores, viver os valores organizacionais… tudo isso antes de maio de 2024”. E sim, tudo isso importa, porém, quando tudo é importante, nada é prioritário e as múltiplas iniciativas sem foco acabam gerando muito movimento e agitação, porém pouco resultado. E poucas coisas geram mais frustração do que investir tempo, energia e atenção em algo que não durou.
Para descobrirmos o que é relevante em tudo o que temos visto, ouvido e acompanhado é preciso desenvolver o olhar referencial. Para onde estamos indo de fato e como queremos chegar lá? Estas são as práticas que queremos alimentar? Esta tendência do mercado dialoga de fato com as estruturas e cultura que temos e que desejamos ter no futuro? A linguagem que temos e usamos hoje é compatível com o que desejamos alcançar? Ao gerarmos referências saudáveis, como o tipo de experiência que queremos gerar aos clientes e demais pontos de interesse da cadeia produtiva, o tipo de vivências e aprendizado que desejamos fomentar entre as pessoas e as equipes que atuam no negócio e a pegada que desejamos criar no mundo, nossa habilidade de determinar o que de fato importa naturalmente será desenvolvida.
Bons líderes vivem na corda bamba do equilíbrio entre os resultados e as pessoas, o teórico e o pragmático, o hoje e o amanhã. Um eterno campo de tensão, que em alguns momentos pode ser desconfortável, mas é o melhor lugar para se estar. Então, se eu posso tomar a liberdade de lhe dar um conselho, diria o seguinte: para ser um líder do futuro, em constante progresso, olhe para fora, preste atenção no cenário ao seu redor, contemple as novidades e as tendências. E então, olhe para dentro, para tudo o que foi construído e tudo o que se deseja alcançar. Trace os paralelos e, assim, crie uma visão de futuro. Cada empresa é um organismo vivo e único e as receitas do passado (e as do futuro) por si sós não são garantia. Gaste tempo entendendo o que realmente importa e isso fará a verdadeira diferença.
E uma dica para quem quer continuar refletindo, quero indicar a leitura do nosso último artigo sobre produtividade e sobre como nossa visão precisa amadurecer neste tema. Acesse o artigo clicando aqui.
Camila Carvalho é jornalista, especializada em gestão, cultura organizacional e liderança 4.0 e entusiasta da educação corporativa.