Imagine a seguinte cena: você está sentado ao ar livre numa bela paisagem em um dia de sol. Depois de poucos minutos, começa a sentir uma corrente fria e úmida de vento passando e algumas nuvens de cor acinzentada se aproximando. Um pouco mais de tempo, e ao longe ouve um som de trovão. É quase certo imaginar que sua primeira reação seria pensar: vai chover. Certo?
Mas, Anderson, você disse que precisamos falar sobre valorização do funcionário, o que essa cena tem a ver com isso?
Gosto de me aproximar dos exemplos que a natureza e a biologia têm para nos oferecer. Em sua simplicidade, eles nos dão indícios poderosos sobre nossas relações e o que está atrelado a elas, por exemplo, o trabalho.
Assim como o vento e o trovão denunciam que a chuva vai tomar o lugar do sol, existem sinais específicos que denunciam as mudanças que estão acontecendo nos locais de trabalho onde estamos inseridos. O problema é que, normalmente, não estamos acostumados a fazer esta leitura com a mesma facilidade que fazemos a leitura do tempo. E, alheios, só percebemos que as coisas mudaram quando tomamos um susto e ficamos encharcados com a chuva torrencial de reclamações e problemas nos resultados.
Um líder, mesmo que tenha boa intenção, pode perder a si mesmo e a equipe se não souber ler o ambiente que gerencia.
Vamos aplicar esta ideia ao que nos propusemos a conversar, valorização do funcionário. Como consultor, tornou-se parte da minha prática perceber que tipo de mensagem o ambiente da empresa diz sobre as pessoas que trabalham lá. E, obviamente, apesar de parecer simples, a complexidade destes dois ambientes merece perícia e cuidado. Nem sempre chove, nem sempre o cinza é feio e muito menos merecedor de desespero e fuga.
Frequentemente, encontro dois perigosos e comuns enganos. O primeiro deles é o pensamento de que valorizar significa única e exclusivamente melhorar condições financeiras. Pessoas buscam realização e pertencimento dentro dos locais de trabalho. Quando encontram, respondem com entrega e lealdade.
Quando os funcionários não se sentem parte essencial da engrenagem que a instituição criou, o clima se carrega de desmotivação, incertezas e murmúrios. E assim como a maioria de nós prefere ficar em casa em um dia acinzentado, será mais difícil para as pessoas entregarem sua melhor contribuição neste ambiente.
Porém, na maioria dos casos, vejo repetidamente empresários e líderes tentando alcançar este patamar oferecendo apenas salários maiores ou alguns benefícios extras. Ou pior, abrindo mão de talentos pelo fato de não poder oferecer mais do que retorno financeiro. Um claro erro de leitura.
Valorização do funcionário: Um líder, mesmo que tenha
boa intenção, pode perder
a si mesmo e a equipe se não
souber ler o ambiente que gerencia
O segundo é achar que o sentimento das pessoas não influencia – ou até determina – os resultados da empresa. Os líderes que não veem importância na valorização do funcionário são os mesmos que acreditam que os números que chegam às suas mesas são quocientes dos esforços do CNPJ e não do grupo de CPFs que está por trás dele. Outra vez, um erro.
A palavra “valor” significa “força”. Valorizar é encher, agregar e potencializar a força que existe nas pessoas. A valorização do funcionário não pode ser encarada com a simplicidade de quem abre um guarda-chuva para se proteger, mas deve ser vista como a melhor oportunidade de crescer, entrando de cabeça na tempestade, afinal de contas, ela sempre passa. Força para os dois lados: líder e liderado.
Que tipo de ambiente você tem construído dia após dia em seu setor ou empresa? Aquele que busca ter apenas dias de sol ou aquele que acredita que tudo é motivo para tempestade? A valorização do funcionário precisa ser pauta recorrente das conversas e decisões, desde as mais estratégicas até as mais operacionais. Abrace o desafio de ser o meteorologista empresarial que todo bom líder pode e deve ser.
Anderson Siqueira
Idealizador e educador na Consense Educação para as Relações.